08 setembro 2007

“Mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.”


Nos últimos tempos, é cada vez mais comum encontrarmos na igreja, pessoas que afirmam ter fé salvífica em Cristo, mas que, ao mesmo tempo, não comprovam por obras, qualquer evidência ou expressão de devoção sincera a Jesus Cristo e à Sua palavra.

Algumas perguntas surgem sobre este assunto, como:


*Existe contradição entre o ensino de Paulo (“justificação pela fé”) em relação ao de Tiago (“justificação pelas obras”)?

*Que obras preciso para ser salvo?

*Minha salvação depende do mérito de minha própria obra e não da graça de Deus?

Para meditarmos melhor nesta questão, faremos um estudo à epístola de Tiago; mais precisamente em seu segundo capítulo entre os versículos 14 a 26.
A mensagem de Tiago é a mais prática de todos os livros do Novo Testamento, conseqüentemente um manual de comportamento cristão, o qual pressupõe um fundamento de fé por parte de seus leitores. Esta carta apresenta o nome de seu autor, Tiago, um dos líderes da primitiva igreja de Jerusalém e habitualmente considerado meio-irmão de Jesus; é também classificada como “epístola universal”, porque foi originalmente escrita para uma comunidade maior que uma igreja específica.
Alguns aspectos chamam atenção nesta epístola, como: seu tom de admoestação pastoral, sua estrutura pouco rígida (passa rapidamente de um tema para outro), o uso amplo e eficaz de metáforas e figuras de linguagem, e seu grau de ênfase nos ensinos de Jesus Cristo permeia toda carta.
Tiago conhecia tão bem os ensinos de Cristo que moldou as suas idéias e atitudes em sua literatura, destacando-se sua insistência em que a fé cristã autêntica tem de se evidenciar em obras. Assim questiona o autor aos seus leitores: “Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano,
E algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?
Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.”
Tg 2:14-17

Verdadeiramente Tiago enfatiza nesta passagem citada acima, o fato de que a fé deve ser funcional, persistente e que não se limite à mera confissão de Jesus como Senhor e Salvador. Desta maneira ele vindica evidências externas, de uma sincera certeza interior em Deus como autor e consumador da fé.
Certos teólogos modernistas encaram esta passagem de Tiago como uma distorção antinomiana do ensino paulino da justificação pela fé. Seria então uma contradição nas Escrituras Sagradas? A resposta é: CLARO QUE NÃO!!! Vejamos abaixo:

Porventura Abraão não foi justificado pelas obras?!

“Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?
Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada.
E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.
Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé.”
Tg 2:21-24


“Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei”.
Rm 3:28

A menção das obras (termo grego ergon) relatadas por Tiago nada tem haver com as citadas em Romanos, as obras referidas na epístola paulina são “obras da lei”. Paulo usa o exemplo de Abraão para abolir o conceito errôneo de que a salvação depende de nossos próprios méritos; ao ponto de que Tiago utiliza o mesmo modelo para refutar a crença de que pode haver fé sem dedicação e apego à obra de Deus. Portanto o sentido de ambos é diferente (em relação à “obras”), mas a consonância de propósito é harmoniosa.
O liberalismo teológico dos que sustentam uma falta de concordância entre os textos, mostram resquícios de uma mentalidade primitiva indigna de fazer parte do credo cristão.
Tiago não afirma que a fé e as obras nos salvam (isso seria separá-las), mas que ambas se completam! Paulo da mesma forma explica que a verdadeira fé opera por caridade!

“Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor”. Gl 5:6

Certamente Deus é conhecedor dos corações de todos os homens (Pv 21:2), mas a demonstração da genuinidade da fé produzirá boas obras.

“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” Mt 5:16

Quando somos confrontados com o legalismo, com a tentame de fundamentar a salvação em obras humanas, é preciso ouvir Paulo - como aconteceu de formato intenso no período da Reforma. Mas, quando confrontados com o quietismo (estado de contemplação passiva), com a maneira de que as obras são dispensáveis para os cristãos, é preciso ouvir Tiago – como incidiu de forma igualmente influente na era dos irmãos Wesley.

“Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta”. Tg 2:26

Eduardo Neves