10 julho 2009

3 anos!!!

Muito Obrigado a todos que me ajudaram e participaram deste blog! Graças ao Senhor Deus!!! Louvado seja o Espírito de Cristo que me ergue e concede luz!!! Cristo obrigado por tudo: EU TE AMO!!! EU TE AMO!!! EU TE AMO!!!

*EDUARDO NEVES / O Senhor é o meu Deus!!! Aleluia!!!

09 maio 2009

Que parte tem o fiel com o infiel?



Objetivando o bem-estar da família, Deus nos ensina, através das Escrituras Sagradas como ter uma vida com paz! Ser prudente e equilibrado é a vontade de Deus para a vida dos seus servos; na verdade Ele não veio para colocar jugo sobre ninguém, veio retirar os diversos fardos.

A união do povo de Deus com descrentes é relatada na Bíblia como fonte primordial de vários males e, portanto nocivas à vida cristã. Estas alianças são expressamente proibidas (não somente no matrimônio, mas também à sociedade comercial e outros tipos de sociedades voluntárias).

Quem deve então passar a fazer parte da minha família? Quem deve agregar-se a minha família? Quem deve ser meu sócio?

Vejam os versículos abaixo:

“...nem contrairás matrimônio com os filhos dessas nações; não darás tuas filhas a seus filhos, nem tomarás suas filhas para teus filhos; pois elas fariam desviar teus filhos de mim, para que servissem a outros deuses; e a ira do SENHOR se acenderia contra vós outros e depressa vos destruiria.” (Dt 7.3,4)


“Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniqüidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas?” (2Co 6.14)

“Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.” (Salmos 1.1).


Em afinidade ao casamento, tenho sido levado pelo Espírito Santo a crer que este relacionamento deve abrolhar primeiro no coração de Deus; sendo manifesto na história dos homens santos e sensíveis à Sua santa voz, frutos dignos de um relacionamento sincero. Sei que esta consideração entra em choque direto com várias correntes teológicas e filosóficas, dispostas a divinizar e abençoar toda e qualquer relação que surge; que em sua grande maioria são impuras e pecaminosas segundo os preceitos bíblicos.

Constantemente estamos diante de decisões difíceis na vida. Fazer escolhas nem sempre é uma tarefa fácil, mas é impossível viver sem fazê-las. Estabelecer alguns princípios nos ajudará em muito a não escolhermos errado.

Há um princípio que tenho procurado usar como regra: “Diga-me com quem tu andas e Eu direi quem tu és”. (rs)

Quando o Senhor Deus nos convence do pecado, da justiça e do juízo, Ele também nos revela que quando Jesus Cristo perdoou o nosso pecado, nós nos tornamos filhos de Deus, e que devemos viver uma vida segundo os mandamentos de nosso Pai Celestial. É necessário que o preço seja pago; uma vida irrepreensível e um testemunho autêntico são os instrumentos usados pelo Senhor para seus eleitos.

Então meu caro irmão em Cristo Jesus: “Se o seu estilo de vida for motivo de perseguições totalmente injustificadas, não procure se defender; pois sua ousadia e intrepidez são invejadas pelos prazeres e deleites mundanos dos fracos e infiéis...”.

Lembrem-se do que o “Ungido de Deus” disse:

“Porque lhes dei as palavras que tu me deste; e eles as receberam, e têm verdadeiramente conhecido que saí de ti, e creram que me enviaste. Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.” (João 17.8-9).

Somos a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para anunciar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; um povo separado; a santificação não está em usar uma capa de perfeição diante das pessoas e diante de Deus, mas está em admitir que erramos e que carecemos do sangue de Jesus sobre nós. É Ele quem nos torna perfeitos, Ele é a nossa justificação, e não os nossos dons e méritos.

Ora, existe maior demonstração de amor do que falar do evangelho e orar por aqueles que ainda estão perdidos, e isso com insistência, sem desanimar?

Devemos ficar atentos e vigiar!

Eduardo Neves.
"Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo". I Jo 2.1

04 abril 2009

“Estes são manchas em vossas festas de amor”


É deprimente pensar no cristianismo protestante praticado atualmente em nosso país. Tornamo-nos refém de uma religiosidade insignificante; ensinos e teorias tão contraditórios à chamada ortodoxia – a teologia mais conservadora – alteraram a essência da Igreja Cristã brasileira.

Surgem admiradores a todo instante destas doutrinas espúrias. Estes hereges penetram com extrema astúcia na comunidade cristã, tendo como intento satisfazer suas necessidades temporais e distanciar do cristianismo bíblico os ignorantes na fé.

São teologias de todos os tipos e de todos os gostos: Teologia da Prosperidade, Teologia Narrativa, Teologia da Esperança, Teísmo Aberto, Ortodoxia Generosa, Teologia Quântica, Teologia Existencial e etc.

Pior que todos esses ensinamentos pérfidos, é observar o estado mórbido (inerte) da liderança desta mesma Igreja atacada por esta avalanche de ciência insana característica de homens egoístas e sem afeição, governantes estes que parecem não se importar com estes movimentos no ambiente de muitas igrejas evangélicas brasileiras.

Apresento um exemplo para melhor ilustrar esta situação: tenho em meu acervo particular um vídeo da década de 90, onde um popular conferencista e pastor evangélico brasileiro ataca o movimento denominado “G-12” (quebra de maldições, cobertura espiritual, cura interior, terapia regressiva, etc.); há cerca de alguns meses atrás (2007) o mesmo evangelista parte para uma união de forma surpreendente com o principal líder deste movimento bastardo.

O que mudou no entendimento deste famoso pregador, para mudar suas convicções de credo religioso de forma tão fácil? (Ver II Ts 2:2)

Seria um "mercado" a ser explorado?

Imediatamente depois da vocação e do ministério, deve estar à fidelidade as Escrituras Sagradas. E muito distante da vocação e do ministério, precisa estar qualquer vantagem financeira ou interesse particular.
Veja a frase abaixo:

“Que Deus nos ajude a querer ser populares no lugar onde a popularidade realmente conta: junto ao trono de Deus.” (Zepp)

Os reformadores conseguiram recuperar parte do que foi destruído em vários concílios heréticos; ao ponto que agora os hipócritas que atacavam as deturpações do catecismo romano são os mesmos que violentam a noiva de Cristo. A igreja carece de um ambiente possível para que cada pessoa perceba que ela é única, mas não exclusiva de homens que crêem estar no quintal de suas mansões. Devemos nos lembrar que esta casa deverá ser chamada para todo sempre como “Casa de Oração”! (Mt 21:13)

Recordo de minha primeira pregação na igreja que tinha por título a passagem de Salmos 69:9 que diz: “Pois o zelo da tua casa me devorou, e as afrontas dos que te afrontam caíram sobre mim”

Tenho por certo que nenhum destes líderes tem este sentimento de cuidado, dedicação e amor para com o rebanho de Cristo. Encontramos no conceito judaico-cristão do zelo pela casa de Deus, o interesse genuíno e piedoso pela igreja; e a expressão bíblica “devorar” nos aproxima do ideal contemporâneo de um verdadeiro sentimento de adoração a Deus.

A proposta de Jesus Cristo era diferente desse evangelho vazio, abandonado e revestido de sentimentos egoístas, onde estes comodistas sempre buscam seus interesses pessoais de forma parasitária (Jd 1:12). Estes interesses próprios, como o nome já indica, é algo pessoal, individual, e jamais irá de encontro com os propósitos de uma comunidade que tem por mandamento uma reciprocidade amorosa de auto-ajuda.

Amar ao próximo é o nosso mandamento!

“Se alguém cuida ser profeta ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor, mas se alguém ignora isto, que ignore.” I Co 14 : 37-38

*Eduardo Neves / Editor deste blog!

08 março 2009

IGREJA E EVANGELIZAÇÃO - Parte 3

Evangelização e Classes Sociais

Queríamos saber em que países haviam se estabelecido o cristianismo, ao final do século I, e em que classes da sociedade haviam feito adeptos. A resposta a estas duas perguntas só pode ser aproximada, em face da precariedade das informações de nossos documentos.

Eusébio diz que a fé se difunde desde logo “como um rastro de luz” e que os apóstolos se espalham por toda a terra.Surgem igrejas em todas as cidades e em todas as vilas, que ficam cheias de fiéis (...). Pode ser de fato, que em razão das freqüentes relações que uniam a Jerusalém e entre si as comunidades judaicas da diáspora, a fé cristã tenha feito adeptos na maior parte das cidades desde a era apostólica; todavia, não sabes onde se implanta definitivamente. A existência de comunidade é atestada, claramente, na Palestina, na Síria nas províncias de Ásia menos, nas grandes cidades do Mediterrâneo oriental e nalgum ponto da Itália do Sul e de Roma; em outras palavras: no terreno já desbastado pela propaganda judaica. Que importância têm cada um? Qual era o número de fiéis reunidos? Não sabemos.

Podemos, pelo menos, adivinhar em que meios sociais se implantaram imediatamente o cristianismo? De um modo geral, parece evidente que as classes elevadas resistiram durante bom tempo à conquista cristã. Seria difícil a um homem rico e respeitado não somente aceitar a moral de renúncia que lhe impunha a nova fé mas também tomar parte da má reputação que atraía sobre os cristãos e desprezo das pessoas honradas. Todos os preconceitos e todos os interesses se juntavam na alta sociedade contra o cristianismo e é nela onde se encontram as últimas resistências urbanas.

É correto dizer que não se encontram exceções pessoais e que a Igreja do século I não recruta apenas indigente? (...) Desgraçadamente, os nomes que se citam e que se referem à cristocracia não são seguramente os verdadeiros cristãos. Ninguém aceita hoje as supostas relações entre Paulo e Sêneca nem tampouco a conversão de Cláudia Prócula, esposa de Pilatos. A conversão de Sérgio Paulo, em Chipre atribuída pelos Atos a Paulo e Barnabé, tem suscitado dúvidas legítimas. Quando a Epístola aos Filipenses ( 4:22 ) alude a expansão do cristianismo na casa de Mero, há que se interpretar que alguns judeus, numerosos nos escalões inferiores da administração imperial, ou libertos de origem judaica, abraçaram a fé. Talvez até, a amante de Nero, embora não fosse cristã, se inclinasse a sê-la. Nada mais podemos assegurar. Falou-se muito em Pompônio Gracina, mas nada está certo e seu respeito. Tácito diz que uma Pompônia, mulher de grande distinção, casada com Aulo Plautio, personagem de vulto, foi acusada de superstição estrangeira, e levada a um tribunal familiar conforme os velhos usos, mas foi absolvida.Não sabemos de que superstição estrangeira se trata, e por tentadora que seja, a conclusão, de que era cristã permanece hipotética.(...)

É igualmente provável que o cristianismo tenha feito algumas conquistas na casa de Domiciano, de uma família de províncias e isenta dos estreitos preconceitos romanos. (...) Suetôneo relata que Flávio Clemente, primo-irmão do imperador, foi executado por causa de uma suspeita (...) e Xifilino (...) acrescenta que Flávia Domitila, sua esposa, foi executada com Flávio Clemente por crime de ateísmo e que várias pessoas que haviam adotado costumes judaicos foram também condenadas; entre elas outra Domitila foi desterrada para a ilha de Pandataria. (...)

Estes Flávios, porém, foram “mártires” muito indecisos, porque não se encontram neles sintomas característicos da verdadeira fé: horror da religião pagã e abandono total dos deveres e honras da vida civil. O mesmo se pode dizer do proconsul de Glábrio: passa por cristão mas não se nega a lutar contra as feras no antifeatro (...)

(...) “ O Pastor”, de Hermas, nos faz assistir à construção da Torre, que é a Igreja, e nos mostra esses indecisos sob a forma de pedras que caem perto da água e não podem entra nela, porque (...) retrocedem diante da santidade da religião e do abandono de seus desejos. Vejo estes aristocratas, a quem se quer converter em verdadeiros cristãos, como prosélitos judeus inclinados ao cristianismo no momento em que a mudança de uma posição para outra era fácil, mas que permanecer na Igreja, favorecendo os irmãos, e cujos descendentes abraçaram completamente a fé. (... )

Embora admitindo que, da sinagoga, alguns prosélitos judeus de alta posição se hajam simpatizado no século I, eles são, na realidade, raros e apenas se encontram mais em Roma, em função do favor que gozam os judeus, particularmente no círculo dos Flávios. Só no reinado de Cômodo, ao final do século II, aumentará a ascensão social do cristianismo e, antes disso , continua exata a frase de Tertuliano. “Há poucos ricos entre nós”. Não são geralmente os judeus instruídos nem os freqüentadores ricos da Sinagoga que são levados à fé; é entre os pagãos de condição ínfima ou modesta que a igreja da gentilidade formou grupos maiores, Seria preciso esperar que a filosofia grega se ocupasse do cristianismo para que se adaptasse às necessidades das classes elevadas.

(...) Mas o sinal aberto: o cristianismo, livre do legalismo judaico, universalidade, dinâmico, pode ser pregado ao espírito, aos desejos e as tendências do mundo grego e encontrar nele a substância de sua carne e de sua vida. O começo do século II assinala a manhã da verdadeira igreja cristã.

Charles Guignebert. Manual de História antiga del cristianismo. Buenos Aires, Albatros, 1973. pp. 410-415.

01 março 2009

IGREJA E EVANGELIZAÇÃO - Parte 2


A Queda de Jerusalém e suas Conseqüências

O que se conhece comumente com o nome de época apostólica terminou com o desaparecimento da primeira geração cristã, a de Paulo e os apóstolos. Pode considerar-se o ano de 70 como uma data importante na história do judaísmo e, consequentemente, na do cristianismo nascente. No que se refere aos judeus, a destruição do Templo e o fim do culto dos sacrifícios, determinaram o triunfo definitivo da forma sinagogal da vida religiosa e do farisaísmo. No que se refere à comunidade primitiva, ela considerou, talvez de início, o drama palestino como uma catástrofe que anunciava a parousia; mas como esta tardava a acontecer, ela terminou por ver na destruição o castigo divino que se abatia sobre Israel, povo que não quisera escutar a chamada de Cristo.

Os judeus cristãos adotaram em seguida uma postura diferente diante dos zelotas, os causadores da revolta (...). Era realmente difícil para eles dar uma explicação satisfatória para um acontecimento que para um cristão não-judeu representava uma confirmação celestial da mensagem de Estevão e de Paulo (...). O júdeo-cristianismo se viu condenado a vegetar, antes que desaparecesse completamente; diante disto, ele tratou de se adaptar à nova situação por outros caminhos. As pseudo-clementinas, escritos de cronologia, origem exata e composição discutidos, revelam um ebionismo específico que talvez tenha procedido de uma forma marginal e egotérica de judaísmo pré-cristão que condenava com vigor o culto sacrifical. Além desta foram, porém, o júdeo-cristianismo só representa uma tendência com esta escassa força na história da Igreja antiga. (...)

Marcel Simon y André Benoit. El judaísmo y el cristianismo antiguo. Barcelona, Labor, 1972. pp. 53-54.
Obs.: Peço desculpas aos leitores deste blog pela demora em estar postando; tive problemas em meu computador.
Um abraço;
Eduardo Neves. (eduardoneves007@ig.com.br)

10 fevereiro 2009

IGREJA E EVANGELIZAÇÃO - Parte 1

As missões do Novo Testamento

JESUS e os Pagãos

Ao estudarmos a posição de Jesus com respeito aos pagãos e as missões entre eles, encontramos o paradoxo de certos que parecem ser uma negação de todo espírito missionário contra outros que podem ser tomados como ponto de partida para o impulso missionário da Igreja. De um lado, Jesus condena o espírito do proselitismo judaico (Mt.23:15), sua própria missão é para a casa de Israel (Mt.15:24); mesmo seus discípulos não devem entrar em Samaria e nem dirigir aos pagãos (Mt.5:5ª). De outro lado, Jesus não só afirma que a salvação é também para os pagãos, mas ainda chega até a dizer que no dia final eles ocuparão o lugar dos filhos do Reino (Mt.8:11s); sua missão é a de ser “luz para ser revelada aos gentios” (Lc.2:32).

Como compreender este paradoxo? Devido ao caráter antiguíssimo de uns testemunhos, não é possível pretender que se trate simplesmente de um particularismo original de Jesus no que a Igreja posteriormente interpelou seu sentido de missão universal. É, antes, que Jesus concebia sua missão universal e a revelação da luz aos pagãos como um acontecimento escatológico. Dentro da história da salvação, chegaria o momento em que Deus proveria a salvação dos pagãos. Durante a vida de Jesus, este momento não havia chegado ainda.
Antes que chegasse o momento da pregação, era necessário que cumprissem duas condições: que oferecesse a salvação primeiramente aos judeus e que se cumprisse há sua hora sobre a cruz. Por causa desta última condição escatológica é que Jesus se refere ao seu próprio sacrifício em termos universais.

É também por esta razão que o mandamento de ir por todo o mundo e pregar o Evangelho não aparece senão depois se ressurreição de Jesus. Os textos onde aparece um mandamento missionário antes da crucificação e da ressurreição limitam esse mandamento à casa de Israel. É depois que cumpriu a hora da cruz que os discípulos de Jesus hão de ir e pregar a salvação a todas as nações. O fundamento da missão dos discípulos se encontra no fato de que, através da crucificação e da ressurreição, toda potestade foi entregue a Jesus. Esta é a importância do “portanto” que aparece no texto da Grande comissão: “Todo poder me é dado no céu e na terra; portanto ide e fazei discípulos...” (Mt.28:19-20).

*Justo González. História de las missiones. Buenos Aires, La Aurora, 1970. pp. 33.

30 janeiro 2009

Igreja e Política - Parte 5

Escravidão e Cristianismo

Várias questões se levantam sobre os motivos por que a Igreja em geral e Paulo em particular não condenam de pronto a escravidão e nem conclamam todos os proprietários de escravos na Igreja a emancipar os seus. Uma resposta que precisa ser logo abandonada sustenta que Paulo e outros, embora provavelmente conscientes da iniqüidade moral de escravidão, recusaram-se a proibir os cristãos de praticá-la porque a sociedade como um todo estava despreparado para uma reforma e se ela acontecesse produziria uma imediata revolução e tumulto, sem falar numa guerra mortal entre senhores e escravos. A dificuldade em aceitar esta perspectiva reside no fato de que ela ignora uma distinção muito vital entre o que é possível, provável e justo, com os limites de uma pequena comunidade em formação (...). Que revolução ou guerra de escravos teriam sido produzidas por um punhado de senhores (e os proprietários cristãos de escravos não tinham muitos) que resolvessem emancipar seus escravos?

É possível explicar o silêncio da Igreja primitiva sem apelar para estas hipóteses. Em primeiro lugar, estaremos certos em dizer que a incompatibilidade essencial entre escravidão e cristianismo, tão clara para nós, não tinha, aquela época passado pela mente do povo cristão. Em segundo lugar, embora Paulo estivesse consciente de algumas objeções à instituição, várias circunstâncias se combinam para enfraquecer as forças destes argumentos e desencorajar ou retardar a adoção de reformas práticas. A expectação pela Parousia naturalmente lhe levaria a considerar a extinção da escravatura uma questão relativamente sem importância. Ademais se escravos e senhor (ou apenas o senhor) fossem cristãos, o mal inerente da instituição seria dissimulado pela conduta cristã. Se somente o escravo fosse cristão, a humildade e paciência o impediriam de agitar em busca de sua emancipação.

(...) Do ponto de vista espiritual da igreja, a distinção entre escravo e livre, assim como entre homem e mulher, judeus e gregos, não tinha validade qualquer. (...) Por outro lado, a escravidão é percebida como um mal, uma vez que Paulo aconselha um escravo que teve a possibilidade de garantir a sua emancipação a que a aproveitasse (I co 7: 21), insinua a Filemon claramente a que emancipe Onésimo ( Fi 21) e usa várias expressões metafóricas que pressupunham ou implicavam em depreciação da condição escrava ( Gl 14:1, 3, 7,-9, 24ss; 5:1 I Co 7: 15; Rm 6:6, 8:15, 21, 9:12, Ts 2:3, 3:3 ).

Paradoxalmente, a servidão, não é um grande mal, mas o escravo é encorajado a permanecer pacientemente como está (I Co 7:20-22,24 ). Paulo manda de volta o escravo convertido, Onésimo, ao senhor de quem tinha furtado e fugido, mas não diz que tinha o direito de ser emancipado ( Fi 10:19 ). (...)

Paulo aconselha aos senhores tratarem com justiça os seus escravos, mas não os ameaça, lembrando que eles tinham um senhor no céu que não manifestava nenhum prazer em estamentos sociais. Filemon foi exortado a receber Onésimo não como escravo, mas como um irmão querido. Os escravos em geral foram concitados a demonstrar uma obediência genuína e a respeitar seus senhores, não somente quando sob os olhos dos senhores, mas em sinceridade de coração, como escravos zelosos de Cristo, fazendo a Vontade de deus. Foram aconselhados a trabalhar com satisfação e não como refratários e ladrões. O crédito à doutrina cristã e a expectação pelo julgamento futuro lembrados para sancionar estes ensinos (Cl 3:22) aos cristãos foram particularmente avisados nas Epístolas Pastorais contra a tendência natural de desconsiderar a autoridade de seus senhores menos que os escravos pagãos faziam: eles deviam exercer melhor suas funções porque os beneficiários de seu trabalho eram amados irmãos em Cristo ( I Tm 6: 1-2 ). Pedro avisa aos escravos de senhores pagãos a serem submissos e respeitadores, não somente aos que eram bons, mas também aos que eram severos e perversos e lhe infligissem castigos injustamente. Eles deviam seguir exemplo do Cristo sofredor (I Pe 2:18-25 ). (...)

*Cecil Cadoux. The carly church and the world. Edinburgh, T.&T. Clark, 1955. pp. 131-135, 199.

24 janeiro 2009

Igreja e Política - Parte 4

A Desaprovação Cristã à Ambição Política

Há algumas figuras no ensino cristão primitivo que provocaram às mentes pagãs suspeito de ambição política de tipo perigoso; consequentemente, tornou-se preocupação dos escritores cristãos minimizar estas suspeições pela negativa do caráter político do ensino em questão. Referimos-nos às concepções da realeza de Jesus e o Reino de Deus. A descendência davídica de Jesus de Nazaré foi frequentemente lembrada nos escritos cristãos deste tempo e as narrativas de sua vida em particular continham numerosas alusões à sua realeza messiânica. Ademais, a concepção do Reino de Deus ou Reino dos Céus era um tema importante e mesmo central na mensagem cristã. Não era possível para os mestres cristãos renunciar à crença de que a soberania de seu Senhor era destinada no mundo futuro a sobrepujar todas as soberanias políticas do mundo. O Apocalipse expressa a doutrina cristã muito firmemente. (...) O livro fala de Jesus como o “Rei dos reis da terra” (Ap 1:5) e antevê o tempo quando “o reino do mundo passará a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo, e, Ele reinará pelos séculos dos séculos” (Ap 11:15). A perspectiva do cristão comum supunha que o retorno triunfal de Cristo envolvia uma crença na queda do Império e o castigo dos perseguidores (...). A derrubada dos príncipes dos seus tronos tornou-se item essencial no programa apocalíptico. O autor do Apocalipse estava, assim, simplesmente elaborando uma crença cristã geralmente aceita quando desenhou em detalhes claros e nítidos a queda próxima de Roma e os conflitos e massacres tremendos dos reis da terra e seus exércitos. (Ap 16:10-21, 17:12-18, 18, 19:11-21).

Era, então, natural que os cristãos fossem suspeitos de serem revolucionários políticos. Os Evangelhos contam como os acontecimentos que precederam a morte de Jesus se apoiaram nos relatos deturpados de suas reivindicações de título real. Lucas conta como os apóstolos foram suspeitos pelos governantes judeus de tentar levantar uma revolta popular para vingar a morte do seu Senhor (At 5:28) e como Paulo e seus amigos foram acusados de ter agido contrariamente aos decretos de César, dizendo que havia outro rei, ou seja, Jesus. Domiciano, ao saber que os descendentes do rei Davi ainda estavam vivos, “temeu”, diz Hegésipo, “a vinda de Cristo” e indagou do avô de Judas, o irmão do Senhor, acerca da sua descendência davídica e acerca de Cristo e Seu Reino.

Os cristãos estiveram, portanto, empenhados em assegurar às autoridades pagãs que sua palavra acerca da soberania de Cristo e o Reino de Deus não significam nenhum conflito de ordem política com o governo. O neto de Judas disse ao Imperador que o Reino de Cristo “Não era terreno, mas celestial e angélico e se consumaria no final dos tempos”. Os Evangelhos apresentam Pilatos como incapaz de encontrar qualquer falha em Jesus Cristo. O quarto Evangelho descreve Jesus de Nazaré da Galiléia como se recusando a ser feito rei pelos galileus (Jo 6:15) e como tendo dito a Pilatos em seu julgamento: “Meu Reino não é este mundo; se o meu Reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; entretanto o meu Reino não é daqui” (Jo 18:36). Lucas está especialmente preocupado em tornar clara a ingenuidade política dos cristãos. Ele narra como Jesus Ressuscitado ignorou a pergunta dos discípulos sobre a restauração de Israel (At 1:6). Ele apresenta uniformemente as perseguições como produto do ódio judaico ou desagrado popular: os oficias romanos, ao contrário, são habitualmente favoráveis aos cristãos.

É provável que estas desaprovações da ambição política exercessem algum efeito na minimização da severidade da atitude governamental, a despeito do fato de que durante este período a doutrina oficial da ilegalidade do cristianismo parece ter se afirmado. O neto de Judas, se podemos confiar em Hegésipo, conseguiu convencer Domiciano de que não havia motivo para persegui-los. O Imperador (conta-se) desdenhou, mas ordenou que a perseguição à Igreja cessasse.

*Cecil Cadoux. The carly church and the world. Edinburgh, T. T. Clark, 1955. pp. 176-178.

18 janeiro 2009

Igreja e Política - Parte 3

A Semente Revolucionária na Comunidade Primitiva

Há muitas indicações de que os sentimentos hostis da Igreja primitiva aos governos em geral e ao Império Romano em particular foram mais profundos que uma análise superficial descobriria. As causas da antipatia são profundas:

1. Havia um preconceito generalizado contra o Estado como sendo não-cristão.

O grande abismo cristão e pagãos levou os cristãos a olharem todos os que não estavam do seu lado como fundamentos comprometidos com o mal. Mesmo Paulo, geralmente visto como modelo de lealdade e mesmo como um advogado do direito divino dos reis, traçou um quadro muito negro do mundo não-cristão em geral; (...) ele se referiu aos magistrados pagãos em geral como “injustos”, não simplesmente porque fossem maus em seu trabalho, mas simplesmente porque eram pagãos (I Co 6:1). (...)

2. Havia o elemento judaico na Igreja.

Não podemos ignorar que as igrejas acima e abaixo do Mediterrâneo tinham uma proporção considerável de judeus, embora esta proporção seja de difícil explicitação; é altamente improvável que os convertidos judeus lavassem nas águas do batismo cada partícula daquele ódio ao Império Romano que marcava a sua raça.

3. Havia o elemento de descontentamento social e econômico.

As comunidades cristãs consistiam em grande parte pelas classes pobres nas grandes cidades – pessoas às quais a paz imperial, governando numa era de confusões e tumultos, conferiu pouco da tranqüila prosperidade auferida pelas altas classes sociais em geral. Sob a aparência externa de tranqüilidade e felicidade geral, fervilhava, sem dúvida, um descontentamento geral diante da desigualdade e injustiça da ordem vigente das coisas no Estado e na sociedade.

4. Havia a tendência de interpretar erroneamente a nova e valiosa doutrina da liberdade do homem cristão.

A recusa de submeter-se às obrigações comuns da vida social (...) Paulo e Pedro frequentemente recordam seus leitores contra a tendência a abusar de sua liberdade cristã. (...)
De todas estas razões, podemos concluir que, ao lado do estímulo dado ao preconceito cristão pela perseguição, havia indubitavelmente um considerável elemento de radicalismo revolucionário dentro das comunidades cristãs.

Cecil Cadoux. The early church ant the world. Edinburgh, T.&T. Clark, 1955. pp. 98-99.

10 janeiro 2009

Igreja e Política - Parte 2

O “Comunismo do Amor” na comunidade primitiva

(...) Permanece aberta à questão se a partilha cristã primitiva dos bens, descrita por Ernest Troeltsch como “comunismo do amor”: Seria simplesmente uma invenção idealística de Lucas, como a crítica radical sustenta; ou tem alguma base na história? (...)

(...) O filósofo ateu Ernst Bloch confiou mais no comunismo da comunidade primitiva em Jerusalém do que a chamada crítica radical: (...)

1. Ele baseia a partilha dos bens na forte influência que o escathon tinha sobre eles: após as aparições do Cristo ressuscitado, e esperavam que Ele voltasse logo como Senhor. (...)


2. Bloch salienta o caráter espontâneo e voluntário deste “comunismo do amor”. Não era organizado nem sujeito à compulsão externa. O fato decisivo era a koinonia e não a organização. (...)

3. Bloch corretamente se refere à pregação de Jesus com sua crítica ao “injusto maoon” e a avareza. A mensagem de Jesus e sua filosofia de vida permanecem lembradas e seria incompreensível se não continuassem a exercer alguma influência. Assim, a igreja primitiva em Jerusalém estava simplesmente continuando a atitude livre de Jesus em relação aos bens deste mundo. Em face da iminência da vinda do Filho do Homem, identificado como Jesus, a barreira das propriedades, mais um poder a separar os homens no milênio, tinha sido ultrapassada: tudo o que o indivíduo tinha era livremente colocado a disposição da comunidade , para uso quando necessário. (...) Uma comunidade carismato-entusiástica se formou e reuniu-se para o culto diário; refeições comuns eram tomadas; (...) o Senhor estava perto e Ele manteve o povo despreocupado. (...) As necessidades diárias das comunidades eram satisfeitas pela venda de propriedades dos que tinham recursos; as distinções sociais foram virtualmente abolidas e não havia mais pobres na comunidade (At 4:34). Outros chegaram a colocar suas casas à disposição da comunidade para lugares de encontro, como Maria, a mãe de João Marcos (At 12:12). Ninguém se preocupava com questões legais acerca de propriedade, escrituras, etc. As coisas deste século tinham se tornado inessenciais. A organização foi reduzida ao mínimo e, diante da ardente expectação da volta de Jesus, até o planejamento esteve completamente ausente. Como resultado, dificuldades na distribuição surgiram, especialmente quando a comunidade cresceu. No livro de Atos dos apóstolos (6:1) relata como as “viúvas” de fala grega da comunidade foram negligenciadas na distribuição diária e como disputas resultaram como conseqüência. Em face da ansiosa espera da comunidade no fim iminente e do entusiasmo surgido com a experiência do espírito, as pessoas não tinham interesse na produção econômica organizada em linhas comunitárias, como entre os essênios de Qumram. A pressão do ambiente judaico e a fome sob Cláudio durante os anos 40 (At 2:28) também contribuíram para o revés econômico considerável sofrido pela comunidade de Jerusalém. Consequentemente, a comunidade de Antioquia – e provavelmente outras igrejas da missão também – teve que lhe socorrer. As coletas mandadas a Paulo e a Barnabé no Concílio Apostólico de Jerusalém (cerca de 48 A.D.) e que Paulo tinha particularmente solicitado das comunidades da missão devem ser compreendidas a partir desses dados. Por duas vezes ele chama a comunidade original em Jerusalém de “a pobre” (Gl 2:10; Rm 15:26). De um lado é um título religioso de honra, mas ao mesmo tempo indica as dificuldades econômicas desta comunidade. Os cristãos judeus na Palestina e na Síria que tinha se separado da igreja-mãe logo se chamaram de “ebionitas”, ou seja, “a pobre”.

*Martin Hengel. Property and riches in carly Church. Philadelphia, Fortress, 1974. pp. 31-34.

06 janeiro 2009

Igreja e Política - Parte 1

Divisão Social do Cristianismo

(...) O Cristianismo foi estendendo-se a todas as camadas da sociedade antiga. Seus primeiros êxitos tiveram lugar entre os elementos mais humildes do povo: um grupo de pescadores da Galiléia se constituiu em seu núcleo primitivo e mais tarde seriam recebidos favoravelmente pelos humildes das cidades mediterrâneas: os escravos, os livres e os artesãos. A todos estes, a esperança do Reino que havia de vir e a mensagem cristã de fraternidade universal proporcionavam força e consolo.
O Cristianismo, todavia, não se definia unicamente como a religião dos pobres e seria falso ver nele uma expressão da consciência coletiva do protelariado da antiguidade. Embora seja verdade que haja custado muito ganhar para a nova religião os camponeses; a propaganda cristã se estendeu rapidamente às cidades fora dos setores populares. Já em tempos de Nero e Domiciano, despertavam simpatias e faziam prosélitos entre a aristocracia romana, embora esta, em seu conjunto, permanecesse como um dos últimos bastiães do paganismo declinante. As classes médias receberam desde o princípio a boa nova: na época apostólica, Áquila e Priscila possuíam uma casa em Roma e outra em Éfeso, bastantes amplas para receber a Igreja local (Rm 16.5; I Co 16.19). Os apologistas e os pais alexandrinos representavam uma burguesia culta. As indicações de Plínio (começo do séc. II) são corroboradas mais de 100 anos depois por Tertuliano em termos quase idênticos: os dois assinalaram a existência de pessoas de todas as condições sociais entre os cristãos. A presença de cristãos no exército, na alta administração e mesmo na corte do imperador (sobretudo no século II) trouxe à Igreja graves problemas práticos: como era possível conciliar estas atividades, organicamente vinculadas ao paganismo, com o Cristianismo que professavam? O concílio espanhol de Elvira, em princípios do século IV, teve que recordar aos fiéis que não deviam aceitar a função de acender a chama no culto ao Imperador; estas posições antinômicas contribuíram em grande proporção para a gênese das grandes perseguições, em particular a de Diocleciano.

*Marcel Simon y André Benoit. El judaísmo y el Cristianismo antugo. Barcelona, Labor, 1972.