30 dezembro 2008

Igreja e Culto – Parte 8


A questão da Catolicidade da Igreja

Ao final do primeiro século, o que falta ao Cristianismo para chegar à unidade e à coesão? Fundir suas unidades em uma Igreja. A idéia Católica ainda não nasceu, embora a comunhão em Cristo e a fraternidade dos fiéis estabeleceram entre eles vínculos evidentemente compreendidos sob esta denominação: a Igreja. Os partidários da primazia de Pedro, dispostos a admitir que ele foi o primeiro papa de Roma e que depois dele uma série ininterrupta de pontífices se têm sucedido em seu trono, sustentam que desde os tempos de Clemente a soberania da Santa Sé estava admitida na cristandade (...) Fixam-se também na Epístola aos Coríntios, atribuída a Clemente, e que teria sido escrita por ele na qualidade de papa e como uma advertência papal. É preciso ver nela, entretanto, um conselho fraternal, uma exortação à paz. O tom da carta não é de modo algum autoritário. Ademais, o anonimato que guarda o autor, como também a ausência de uma fórmula capaz de justificar as pretensões que se lhe atribuem, provam que não as têm. (...) Ainda têm tirado da Epístola de Inácio aos romanos expressões que, somente falseadas parecem confirmar a tese da supremacia da Igreja romana: “Ela preside no lugar do país dos romanos” e “é presidente da caridade”. Essas fórmulas vagas e obscuras não contêm outra coisa senão uma alusão à importância da Igreja, localizada na capital do Império, e um elogio de seu espírito de amor. As outras cartas de Inácio têm fórmulas análogas e nada se pode deduzir disto. No “Pastor”, de Hermas, livro de meados do século II, e provavelmente de origem romana, a Igreja não é mais que a Sociedade dos cristãos, simbolizada por uma torre que o “Pastor”, anjo da penitência, edifica com as pedras que representam os fiéis. Sua organização não está regulamentada e não se faz menção alguma da primazia de Pedro, embora o “Cânon de Muratori” atribua a composição do “Pastor” ao próximo irmão do bispo romano Pio I.

Além do que, era impossível conceber a unidade católica antes que cada comunidade fosse provida de um clero uniformemente constituído. (...) Ao final do século I, a cristandade marcha, entretanto, para a formação desta idéia católica, justamente porque tende a abandonar a direção de suas comunidades a um clero que trabalhará com ardor para constituir a unidade do dogma e da disciplina.

Em princípio, a Eclésia, a assembléia dos fiéis, permanece soberana; algumas alterações, entretanto, vão se processar:

1 – Diminuição da autoridade dos inspirados e tendência a reduzir, na vida comum da Igreja, a importância dos carismas.

2 – Desconfiança em relação aos didáscalas, ou profetas ambulantes, para favorecer os funcionários locais.

3 – Atribuição de funções cada vez mais particulares aos presbíteros, com exclusão do simples fiel; assim, acontece com a unção do azeite aos enfermos de que fala a Epístola de Tiago. Ao mesmo tempo, afirmação da idéia de que eles têm direito de ser obedecidos nos limites de suas funções, porque têm a responsabilidade das almas que dirigem (Epístolas aos Hebreus).

4 – Concessão aos funcionários encarregados da parte material da administração da Igreja (bispos e diáconos) de atribuições religiosas, em caso de necessidade, e, sobretudo de um ministério litúrgico, proibido aos leigos (I Coríntios, de Clemente de Roma) que começa a acontecer.

5 – Tendência a confundir nas mesmas pessoas as funções de instrução, de edificação e as funções administrativas; isto é,a tendência a dividir a assembléia cristã em duas partes cada vez mais distintas: os clérigos e os leigos, reduzidos estes últimos ao papel de assistentes.

6 – Marcha para o episcopado monárquico.

*Charles Guignebert, Manual de História Antigua del Cristianismo. Buenos Aires, Albatros, 1973. pp. 404-410.

(Esta foi a última parte deste estudo sobre o desenvolvimento litúrgico e a organização formal da igreja ["Igreja e Culto"]. No mês de Janeiro, estaremos abordando o tema ["Igreja e Política"] histórico da relação da igreja com o estado.)
Desejo à todos um "Feliz 2009" e que O grande El Shaday abençõe todos nós. Amém!
Em Cristo,
Eduardo Neves.

19 dezembro 2008

Igreja e Culto – Parte 7

Alguns oficiais na Igreja Primitiva

Os termos “presbítero” (ou Ancião) ou “Bispo” (ou Supervisor, Superintendente) denotam no Novo Testamento o mesmo oficial, sendo que o primeiro deriva da sinagoga e o segundo das comunidades gregas; o primeiro significa a dignidade e o segundo, a tarefa.

1) A identidade destes oficias é evidente dos seguintes fatos:

A - Eles aparecem sempre como pluralidade ou como um colégio numa mesma congregação, mesmo em pequenas cidades como Filipos (Fp 1:1).
B – Os mesmos oficiais da Igreja de Éfeso são chamados de presbíteros e bispos alternadamente (At 20:17,18).
C – Paulo envia congratulações aos “bispos” e “diáconos” de Filipos, mas omite os presbíteros porque foram incluídos nos primeiro termo; assim indica o plural (Fp 1;1).
D – Nas epístolas pastorais, onde Paulo busca apresentar as qualificações para todos oficiais da Igreja, ele novamente menciona somente dois, bispos e diáconos, mas usa o termo presbítero depois de bispo (ITm 3:1-13, 5:17-19; Tt 1:5-7).
E – O intercâmbio de termos continuou a ser usado no final do primeiro século, como evidencia a epístola de Clemente de Roma (cerca de 95) e a “Didaquê”, e permaneceu até o final do segundo. (...)

2) A origem do ofício presbítero-episcopal não é relatada no Novo Testamento, mas quando ele é mencionado pela primeira vez na congregação de Jerusalém, 44 A.D., aparece sempre como uma instituição estabelecida. Assim como a sinagoga era dirigida por anciãos, de igual modo seria natural que cada congregação judeu-cristã adotasse de início esta forma de governo; talvez seja esta a razão do autor de Atos que julga desnecessário dar um relato da origem; no entanto, ele narra a origem do diaconato surgida de uma emergência especial que não tinha nenhuma analogia precisa na organização da sinagoga. As Igrejas gentílicas seguiram o exemplo, preferindo sempre o termo familiar “bispo”. A primeira coisa que Paulo e Barnabé fizeram na Ásia Menor foi organizar Igrejas pela escolha de anciãos (At 14:23; Tt 1:5).

3) O ofício de presbítero-bispo era ensinar e governar a congregação particular colocada sob sua responsabilidade. Eles eram os “pastores e mestres” regulares. A eles pertencia a direção do culto público, a administração da disciplina, o cuidado das almas e a gerência da propriedade da Igreja. Eram geralmente escolhidos entre os primeiros convertidos e indicados pelos apóstolos ou seus delegados, com a aprovação da congregação (ou pela própria mesmo), que os sustentavam pelas “contribuições voluntárias” (não é relatado no Novo Testamento a prática do “dízimo” pela Igreja primitiva). Eram introduzidos solenemente em seu ofício pelos apóstolos ou por outros presbíteros pela oração e imposição das mãos (At 14:23; Tt 1:5; I Tm 5:22, 4:14; II Tm 1:6).

4) Os anjos das 7 Igrejas da Ásia Menor podem ser vistos como idênticos aos presbíteros-bispos ou patores locais. Eles representavam os presbíteros presidentes ou o corpo dos oficiais regulares, como mensageiros responsáveis de Deus à congregação. Na morte de Paulo e Pedro, sob Nero, as congregações eram dirigidas por um colégio de anciãos. (...)

*Philip Schaff. History of the Chritian Church. Grand Rapids, Micj, Eerdmans, 1962. Vol. I, pp. 491-498.

16 dezembro 2008

Igreja e Culto – Parte 6


"A origem da Ceia"

(...) Até recentemente o conceito tradicional era que a Última Ceia fora a Páscoa, celebrada por nosso Senhor com seus discípulos pela última vez na noite de Sua traição. A evidência, porém, foi reexaminada. (...)

Uma nova proposta sustenta que a Última Ceia deriva de um simples refrigério, compartilhada semanalmente por pequenos grupos de homens judeus, geralmente por um rabino e seus discípulos. Seu propósito era prepará-los para o sábado ou para um festival e tinha um caráter religioso. Consistia numa prática religiosa seguida por uma refeição simples, de pão comum e vinho misturado com água, passando o copo um ao outro, e por orações. Esta refeição era conhecida como a “Kiddush” e se observava comumente em círculos piedosos de então, especialmente em círculos messiânicos. É quase seguro que nosso Senhor e seus discípulos estavam acostumados a participar desta refeição comunitária nas vésperas de cada sábado e festivais: assim, a “Última Ceia” foi à última delas que compartilharam.
Se a Páscoa tivesse começado na “noite em que foi traído”, nosso Senhor não teria podido ser julgado e executado neste mesmo dia, porque era contra a lei dos judeus celebrar um juízo ou uma execução durante a Páscoa. (...)

O caráter da Última Ceia era fundamente diferente da Páscoa. A Páscoa era um festival estritamente familiar; a “Kiddush” sempre era observada por um grupo de amigos homens. Durante a Páscoa se oferecia um cordeiro pascal; isto falta na Última Ceia, embora essencial para a Páscoa. Era necessário também pão sem levedo, mas na “kiddush” se usava sempre pão comum levedado; todos os relatos assinalam especificamente que na Última Ceia se comeu pão comum. Na Páscoa se usavam vários copos; na Última Ceia, como na “kiddush”, só houve um copo. Durante a Páscoa lia-se invariavelmente a passagem que narra o êxodo do Egito; não há menção alguma disto na Última Ceia.

(...) Desde o começo, a Ceia do Senhor foi celebrada com freqüência e uma celebração semanal logo se tornou prática aceita. A “Kiddush” também era celebrada semanalmente, mas a Páscoa só uma vez por ano. O costume subseqüente mostra claramente que os discípulos compreenderam das ações e palavras de nosso Senhor que deviam celebrar a eucaristia com freqüência; isto seria improvável se a Última Ceia tivesse sido a Páscoa anual e não a Kiddush semanal.
Ademais, o vinho do “kiddush” se misturava com água a moda oriental comum; e esta tem sido, exceto na Igreja Arminiana, a prática universal da Igreja ao celebrar a eucaristia.

*Willian D. Maxwell. El culto cristiano; su evolución y sus formas. Buenos Aires, Methopress, 1963. pp. 19-21.

09 dezembro 2008

Igreja e Culto – Parte 5


*Culto cristão*

O culto cristão na era apostólica

O culto cristão é a adoração pública ao Senhor Deus em nome de Cristo; a celebração da comunhão dos crentes como uma congregação com Seu Pai celestial, para a glória do Senhor e para a promoção e enriquecimento da vida espiritual. Embora se realize primariamente na devoção e edificação da igreja em si, o culto tem, ao mesmo tempo, um caráter missionário e abarca o mundo inteiro. Este foi o caso no Dia de Pentecostes quando o culto cristão, em seu caráter peculiar, primeiramente surgiu.

Assim como nosso Senhor mesmo em Sua juventude e humanidade cultuou na sinagoga e no templo, também seus discípulos o fizeram até quando foram tolerados. Mesmo Paulo pregou o Evangelho nas sinagogas de Damasco, Chipre, Antioquia da Psídia, Anfépolis, Beréia, Atenas, Corinto e Éfeso. Ele “disputou com os judeus todo sábado na sinagoga”, que ele propiciava um púlpito e uma platéia.

Os judeus cristãos, pelo menos os da Palestina, conformaram-se, dentro do possível, às formas antigas do culto de seus pais, que, na verdade, eram divinamente inspiradas e constituíam um modo expressivo de culto cristão. Até quando podemos saber, eles observaram escrupulosamente o sábado, as festas judaicas anuais, as horas de oração diária e todo ritual mosaico; e celebraram, em acréscimo, o domingo cristão, a morte e ressurreição do Senhor e a santa Ceia. Mas esta união foi gradualmente enfraquecida pela obstinada oposição dos judeus e foi finalmente quebrada por completo pela destruição do templo, exceto entre os ebionitas e nazarenos.

Nas congregações gentílico-cristãs fundadas por Paulo, o culto tomou desde o começo uma forma mais independente. Os elementos essências do culto vétero-testamentário foram transpostos, é verdade, mas despidos do seu caráter legal nacionalista e transformados pelo espírito do Evangelho. Assim, o sábado judaico tornou-se o domingo cristão; a Páscoa e o Pentecostes tornaram-se as festas da morte e ressurreição de Cristo e da efusão do Espírito Santo; os sacrifícios sanguinolentos deram lugar à recordação agradecida, à apropriação do sacrifício todo-suficiente e eterno na cruz e à oferta pessoal de oração, intercessão e total consagração ao serviço do Redentor; das ruínas do templo, surgiu o culto (sem fim temporal) do Deus onipresente em espírito e em verdade.

As Várias partes do culto

As várias partes do culto público ao templo dos apóstolos eram as seguintes:

1. A PREGAÇÃO DO EVANGELHO

A pregação aparece no primeiro período principalmente na forma de uma mensagem missionária aos inconversos; é uma apresentação simples e viva dos principais fatos da vida de Jesus, com exortação prática ao arrependimento e à conversão. Cristo crucificado e ressuscitado era o centro iluminador, cuja luz santificadora permearia todas as relações da vida. (...) Deste testemunho cristão primitivo vários exemplos de Pedro e Paulo são preservados nos Atos dos Apóstolos.

2. EXPOSIÇÃO DAS ESCRITURAS SAGRADAS

A leitura das porções do Velho Testamento, com exposição e aplicação prática, foi transferida da sinagoga judaica para a Igreja cristã (At 3:15; 15:21). A esta foram acrescidas, em tempo próprio, as lições do Novo Testamento (...). Após a morte dos apóstolos, seus escritos tornaram-se duplamente importantes para a Igreja, como substitutos para a instrução oral e exortação, e foram muito mais usados no culto do que o Velho Testamento.

3. ORAÇÃO

Em suas várias formas de petição, intercessão e gratidão. Isto veio de igual modo do judaísmo e, na verdade, pertence essencialmente a todas as religiões pagãs; agora, porém, começou a ser oferecida, em confiança pura num Pai mediado pelo nome de Jesus, a todas as classes e condições, mesmo aos inimigos e perseguidores. Os primeiros cristãos acompanhavam cada ato importante de sua vida pública e particular com este rito santo. Paulo, por exemplo, exorta seus leitores a que orem sem cessar. Em ocasiões solenes, eles participavam do jejum com oração, como ajuda à devoção, embora isto não esteja claramente estabelecido no Novo Testamento (Mt 9:15; At 13:3; 14:23; I Co 7:5). Eles oravam na liberdade do coração, como movidos pelo Espírito, de acordo com as necessidades e circunstâncias. (...) Não há nenhum traço de liturgia uniforme e exclusiva; isto seria incongruente com a vitalidade e liberdade das Igrejas apostólicas. Ao mesmo tempo, o uso freqüente de salmos e pequenas formas de devoção, como a Oração do Pai Nosso, pode ser inferida, certamente, como decorrente do costume judaico; da direção do Senhor em relação a sua oração modelo; do forte sentido de comunhão entre os primeiros cristãos e, finalmente, do espírito litúrgico da igreja antiga, que não prevaleceria no oriente e no ocidente sem o precedente apostólico. As formas mais antigas são as orações eucarísticas do “Didaquê” e a petição pelos governantes na primeira Epístola de Clemente, que contrasta visivelmente com a hostilidade cruel de Nero e Domiciano.

4. O CÂNTICO

Uma forma de oração, como adorno festivo da poesia e elevada linguagem da inspiração, levava a congregação aos altos cumes da devoção e tomava parte nas harmonias celestiais dos santos. Isto passou imediatamente, junto com os salmos do Velho Testamento, foram tesouros inesgotáveis de experiência espiritual, edificação e conforto do templo e da sinagoga para a igreja cristã. O próprio Senhor inaugurou a salmódia no novo concerto ao instituir a Santa Ceia (MT 26:30; MC 14:26 ) e Paulo expressamente exortou ao canto de “salmos e hinos espirituais ”, como meio de edificação social. Mas a esta herança preciosa do passado, cujo valor pleno foi agora pela primeira vez compreendido à luz da revelação novi-testamentária, a igreja, no entusiasmo do seu primeiro amor, acrescentou salmos, hinos, doxologias e bênçãos original e especificamente cristãos, que propiciaram o riquíssimo material para a poesia sacra dos séculos seguintes.
Acrescentou ainda: o cântico das hostes celestiais, como por exemplo, no nascimento do Salvador, o “nunc dimittis” de Simão, o “Magnificat” de Maria; a “Benção” de Zacarias; o agradecimento de Pedro após sua libertação miraculosa ; o falar em línguas na igreja apostólica que, seja oração ou cântico, era sempre uma linguagem elevada de entusiasmo; os fragmentos de hinos espalhados pelas epístolas, e as passagens líricas e litúrgicas, como as doxologias e antifonias do Apocalipse.

5. A CONFISSÃO DE FÉ

Todos os atos de culto mencionados acima são atos de fé. A primeira confissão expressão de fé é o testemunho de Pedro de que Jesus era o Cristo, o Filho do Deus vivo. O seguinte é a formula batismal trinitariana. Além destes, começou a se formar o chamado Credo dos Apostólos, que também é trinitariano em sua estrutura, mas que dá à confissão do Cristo o lugar central e mais importante. (...)

6. SACRAMENTOS

Finalmente, a administração dos sacramentos, ou ritos sacros instituídos por Cristo, através dos quais, símbolos próprios e sinais visíveis, dons espirituais e graça invisível são representados, selados e aplicados aos participantes dignos.

*Philip Schaff.History of the christian church. Grand Rapids, Mich., Eerdmans, 1962. Vol. I, pp.460-465.

02 dezembro 2008

Igreja e Culto – Parte 4

..."Liberdade de espírito e disciplina litúrgica"...

(...) O valor dos cultos cristãos mais antigos estava em coordenar harmonicamente a liberdade espiritual e a disciplina litúrgica para o alvo da “edificação” da Igreja. Indubitavelmente, existia desde o princípio o perigo duplo de apagar o Espírito ou de aceitar cegamente toda manifestação que pretendesse passar por sua. Era requerido um alto sentido de valor e ordem, para se manter o equilíbrio entre elementos tão dispares como a glossolalia e a profecia, de uma parte, e os atos e as fórmulas litúrgicas estabelecidas, de outra. (...) Esta síntese harmoniosa de liberdade e de disciplina é o que constitui a grandeza do culto primitivo e o que lhe confere seu caráter peculiar. Paulo tinha constantemente presente esta “edificação” da Igreja como corpo de Cristo; por isto, não caiu no erro de reduzir a um mínimo a vida litúrgica por temor ao formalismo, nem no de desterrar, de pronto, todas as manifestações espontâneas do Espírito por temer o sectarismo. Se a Igreja houvesse ficado fiel a essa linha de conduta, teria impedido eficazmente o nascimento de seitas e facções.

Oscar Cullmann. La fé y el culto em la Iglesia primitiva. Madrid, Studium, 1971. pp.175s.

Perguntas: * participação democrática dos membros de uma Igreja nos cultos modernos?
*O formalismo litúrgico contemporâneo dá liberdade ao Espírito para atuar nas almas famintas?

Esta tese abaixo é de Arthur Alexandre Costa Pereira – Pastor e Bacharel em Teologia. O Arthur foi meu professor de Introdução Bíblica no seminário Ceforte em Petrópolis/RJ.

Não extinguir o Espírito (I Ts 5:19).

O termo extinguir tem vários sentidos, entre eles, sufocar, apagar, limitar. Esse sufocamento tem dois níveis. O nível congregacional e o nível individual. O sufocamento em nível congregacional é promovido por aquele que dirige o culto. Existe uma herança litúrgica romana muito forte dentro da igreja de Cristo, a partir da fusão da Igreja com o Estado em 313 a.D. Os cultos na igreja primitiva eram espontâneos. Um tinha salmo, outro doutrina, outro revelação, profecia, cântico espiritual, etc. A partir da referida data, o culto passou de espontâneo a litúrgico. Uma metodologia engessada foi introduzida e os cultos foram se tornando frios até chegarem ao que hoje conhecemos por missa. O culto passou a ser fruto da mente e não algo gerado pelo Espírito de Deus. Quando o Espírito Santo consegue aquecer a igreja e esta começa a responder à Presença de Deus com adoração, línguas e orações espontâneas, o dirigente diz: “Amém; amém. Aleluia, amém”. Na verdade, o que ele está falando é: Espírito Santo fique quieto, afinal, está na hora da mensagem, que por sua vez, também costuma ser fruto do treinamento. A noiva é arrancada violentamente dos braços do Noivo em nome do programa a ser seguido. A prédica é perfeita! Os recursos homiléticos e hermenêuticos garantem a precisão exegética e expositiva da mensagem, só não conseguem produzir a unção necessária para satisfazer as almas famintas. Que pregação nossa pode substituir o que o Espírito Santo está fazendo?

A extinção do Espírito nesse nível é um câncer tão severo que em 24 de Agosto de 1662, dois mil ministros puritanos foram excluídos dos seus púlpitos pelo Ato de Uniformidade, baixado pelo Parlamento inglês, conhecido pelos evangélicos como A Grande Ejeção. A religião oficial era a Igreja Anglicana, e forçava os puritanos a se moldarem à adoração litúrgica decretada por lei. Eles preferiram o silêncio à transigência.

O sufocamento em nível individual é o fruto do sufocamento em nível coletivo. O novo crente não é ensinado a andar no Espírito. Ensinam a ele como a denominação funciona, e não como o reino de Deus funciona. Quando é tocado particularmente pelo Espírito no banco, ou no púlpito, se sente inibido, afinal, se eu levantar as mãos e começar a adorar a Deus fora do período de louvor ou se sentir vontade de me prostrar ao Senhor no corredor no meio da mensagem, o que as pessoas vão falar de mim? Se eu começar a dançar perante a Arca, Mical pode me reprovar (II Sm 6).

Alguém vai contra argumentar dizendo que o culto precisa ter ordem. Eu concordo. Nosso Deus é um Deus ordeiro, mas quando Paulo fala da ordem do culto em I Co 14, ele não está falando de liturgia. Ordem e liturgia são duas coisas diferentes. A liturgia está fora da ordem de Deus.

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28 novembro 2008

Igreja e Culto - Parte 3


...“Origens do Culto Primitivo”...
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(...) O culto cristão se diferencia de todos os demais, porque se dirige ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Seu desenvolvimento é peculiar porque o Espírito Santo está com e na Igreja para aconselhá-la e dirigi-la desde o dia de Pentecoste. É isto que dá ao enfoque histórico do culto, validade peculiar e importância prática.

O Novo Testamento foi redigido antes que o culto cristão alcançasse seu desenvolvimento pleno, porém não nos deixa sem um testemunho claro. O livro de Atos retrata a vida primitiva da Igreja, e as epístolas e o Apocalipse acrescentam outros detalhes. Quatro coisas sobressaem:

1. Pelo menos por algum tempo os cristãos continuaram participando do culto nas sinagogas e no templo;

2. Os cristãos compartilhavam frequentemente uma refeição comum conhecida como o “ágape” ou festa do amor.

3. Usualmente, ao terminar o “ágape”, e, às vezes à parte dele, os cristãos celebravam a eucaristia em obediência ao mandamento de nosso Senhor dado na última ceia.

4. Esta ação era seguida, geralmente, de profecias ou discursos em línguas, um exercício extático para o qual alguns tinham dons especiais, mas que devia ser cuidadosamente controlado, como se pode ver nas admoestações de Paulo acerca da questão. Em uma época relativamente cedo, aproximadamente na metade do segundo século, os elementos 2 e 4 desapareceram da vertente principal do culto cristão. Por conseguinte, não precisamos nos ocupar deles. Limitar-nos-emos a atentar para os dois elementos permanentes que derivam respectivamente da sinagoga e do cenáculo.

A leitura e exposição das Sagradas Escrituras em um ambiente de louvor e adoração constituíram desde o princípio um dos elementos essências do culto cristão. Esta é uma herança direta da sinagoga judaica.

Nosso Senhor mesmo, “como era de costume”, participava regularmente do culto das sinagogas; a primeira coisa que o apóstolo Paulo procurava, ao chegar a uma cidade, era à sinagoga; e os cristãos de origem judaica amavam a sinagoga e seus costumes, onde haviam adorado e recebido sua educação desde a meninice. Era, portanto, de se esperar que quando os cristãos fossem expulsos das sinagogas, seu culto seguisse linhas similares e contivesse muitos dos elementos anteriores.

Pelo contrário, o culto do Templo deixou poucos vestígios sobre o culto cristão e isto por duas razões principais:

1. A grande maioria dos judeus da Dispersão nunca participaram do culto do Templo e, mesmo na Palestina, o verdadeiro lugar do culto judaico no tempo de nosso Senhor se encontrava nas sinagogas; ademais, para os cristãos de origem pagã pouco significavam o Templo e seu culto.

2. Quarenta anos depois da morte de nosso Senhor, o Templo foi destruído pelos romanos para não ser reconstruído nunca mais; as sinagogas permaneceram. (...)

O culto cristão não era uma cópia exata do culto da sinagoga. Havia uma ênfase e um conteúdo novos de acordo com a nova revelação e para expressar o novo espírito. O centro de interesse passou da Lei para os livros proféticos. Logo, embora demorasse mais de um século para que o cânon se determinasse, as Escrituras começaram a tomar forma, incluindo as cartas e memórias dos apóstolos e de outros, coleções dos ditos e os atos de nosso Senhor Jesus Cristo, e finalmente o Apocalipse. (...)

A tudo os cristãos primitivos acrescentaram outro elemento derivado diretamente de nosso Senhor, a perpetuação em oração e comunhão sacramental da experiência do cenáculo. (...) A experiência estava carregada com o poder da ressurreição; e, em obediência à exortação apostólica, logo se tornou costume a celebração da Ceia do Senhor no primeiro dia da semana, ao raiar da manhã, na hora em que Ele se lhes aparecera, como hora do culto. O dia do Senhor não era a sexta-feira, dia da Sua morte, mas o domingo, o dia da Sua ressurreição; e a esse dia pertencia o seu mais exaltado ato de culto, no qual exibiam vitoriosamente Sua morte na eucaristia, pelo que Ele mesmo, seu Senhor ressuscitado, estava presente com eles. Não tinham nenhuma teoria da presença de nosso Senhor no sacramento tal como as que viriam dividir a Igreja em dias posteriores, mas o conheciam como um fato da experiência espiritual, como uma realidade vívida.

Reunindo, então, as referências ao culto que aparecem no Novo Testamento à luz da história posterior – um procedimento razoável já que a história prossegue – chegamos a uma descrição geral só no fim do primeiro século.

Primeiro; o que surgiu da sinagoga: lições da Bíblia (I Tm 4:13; I Ts 5:27; Cl 4:16), salmos e hinos (I Co 14:26; Ef 5:19; Cl 3:16), oração em comum (At 2:42; I Tm 2:1-2) e améns da congregação (I Co 14:16), um sermão ou exposição (I Co 14:26, At 20:7), uma confissão de fé, embora não necessariamente a recitação formal de um credo (I Co 15:1-4; I Tm 6:12) e talvez ofertas (I Co 16:1-2; II Co 9:10-13; Rm 15:26).

Segundo, geralmente junto com esses elementos, a celebração da Ceia do Senhor, derivada da experiência do cenáculo (I Co 10:16, 11:23; Mt 26:26-28; Mc 14:22-24; Lc 22:19-20). A oração de consagração incluiria ação de graças (Lc 22:19; I Co 11:23, 14:16; I Tm 2:1), recordação da morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo (At 2:42; Lc 22:19; I Co 11:23,25,26), intercessão (Jo 17) e talvez a recitação da oração do Senhor (Mt 6:9-13; Lc 11:2-4). É provável que nesta parte do culto houvesse cantos e o ósculo santo (Rm 16:16; I Co 16:20; I Ts 5:26; I Pe 5:14). Os homens e as mulheres estavam separados como nas sinagogas; os homens, de cabeça descoberta, e as mulheres, de véu (I Co 11:6-7). A atitude para a oração era por-se de pé (Fp 1:27; Ef 6:14; I Tm 2:8).

Desta maneira o culto cristão, como extressão distinta e autóctone, nasceu da fusão da sinagoga e o cenáculo, no crisol da experiência cristã. Assim fundidos, cada um contemplando e estimulando o outro, converteram-se na norma do culto cristão. O culto cristão conheceu outras formas de expressão, mas estas pertencem à periferia e não ao centro. O culto típico da Igreja se pode encontrar até o dia de hoje na união do culto da sinagoga e a experiência do cenáculo; essa união data dos tempos do Novo Testamento.

*Willian D. Maxwell. El culto cristiano; su evolucion y sus formas. Buenos Aires, Methopress, 1963. pp. 16-21

24 novembro 2008

Igreja e Culto – Parte 2


O caráter especificamente cristão dos cultos da Igreja primitiva

(...) Os cultos tinham a finalidade de edificar a comunidade como corpo de Cristo, como corpo espiritual do Ressuscitado. Como corpo de Cristo, a Igreja tomará forma em suas assembléias. Assim, ao reunir-se a comunidade se edifica a si mesma como Igreja. E como a Igreja assim edificada é o corpo espiritual do Ressuscitado, podemos afirmar também que Cristo mesmo está representado pela Assembléia da comunidade. (...)

(...) Este fim purifica o culto de todos os elementos que só satisfazem necessidades profanas, egocêntricas e humanas, mas não exclui o iluminismo que possa arrebatar ao culto sua riqueza sob o pretexto de depurá-lo. O partir do pão, a leitura das Escrituras, a pregação, a confissão de fé, as orações, as doxologias, as bênçãos, os hinos litúrgicos e espontâneos, a profecia controlada, a glossolalia e a interpretação de línguas, todos estes elementos diversos que encontramos no culto da Igreja primitiva concorrerão exclusivamente para a edificação da Igreja como corpo de Cristo. Por isto não cremos que estes elementos fazem do homem o único agente principal do culto; é a comunidade congregada que é o órgão do qual Cristo se serve para representar seu corpo como Igreja. Por isto se requerem carismas especiais para o exercício dos diversos elementos da liturgia, e a assembléia é a posse de um dom que Deus outorga aos homens. Somente na glossolalia é o Espírito mesmo que “geme” (Rm 8:26), porque nas orações e confissões, na adoração e nos hinos, e particularmente na divisão do pão, é o Senhor que atua.

(...) A ceia é o ponto culminante da qual todo o culto primitivo se centraliza e sem a qual não se pode concebê-lo. É na ceia que Cristo, o crucificado e o ressuscitado, se une a Sua Igreja e ela a Ele, na ceia Ele a “edifica” verdadeiramente como Seu corpo (I Co 10:17). Assim sendo, também todos os outros elementos do culto têm como objeto o ressuscitado, Senhor da Igreja, desta maneira, o dia da ressurreição é o dia do culto do Seu povo; por isto, a pregação não visa outra coisa senão despertar e fortalecer a fé nesse Senhor morto e ressuscitado. A leitura da Bíblia concede testemunho Dele somente; a confissão dos pecados apela à expiação e a reconciliação, obras Suas; a oração é, antes de tudo, uma súplica para que venha, gloriosamente ao fim dos tempos, mas que antecipe já esta vinda com Sua aparição na Igreja congregada.

O culto primitivo é essencialmente uma criação do Espírito Santo. Assim vemos porque no centro da assembléia cristã está o Senhor atual da Igreja que, de uma parte, remete ao Jesus histórico crucificado e ressuscitado, e, por outra, anuncia o Cristo que virá. O que caracteriza o Espírito Santo segundo a doutrina novi-testamentária é, efetivamente, que Ele condiciona o presente no desenvolvimento do período da salvação, e que vem apregoar antecipando já o fim, o porvir, sobre a base do que no passado se realizou em Cristo. Essa essência do Espírito Santo pode ser percebida de modo claro no culto da Igreja primitiva. Nele se realiza a partir de Cristo no presente, tudo o que se manifestará no momento da parousia. (...)

A Igreja cristã é o lugar do Espírito Santo e Ele se manifesta de maneira particular nos cultos dos primeiros tempos. É verdade que os mistérios gregos e sua intensa vida litúrgica conhecem também o Espírito. Entretanto, Ele era entendido como a transcendência penetrando na imanência. Por seu lado, na Igreja é o futuro que se realiza no presente sobre o fundamento passado; em outras palavras, é o cumprimento da esperança futura, antecipada no culto da Igreja. Este caráter temporal do Espírito Santo se reflete na essência mesma do culto cristão, razão por que não se trata da representação de um mito, já que a ação presente de Cristo está firmemente ligada aos fatos históricos do passado e aos que a Igreja aguarda para o futuro.

*Oscar Culmann. Lá fé y el culto em la Iglesia primitiva. Madrid, Sutidium, 1971. pp. 177-179

21 novembro 2008

Igreja e Culto - Parte 1

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Nos próximos meses estarei postando aqui no “Entendes tu o que lês?” sobre a História do Cristianismo!

Vou apontar ligeiramente alguns aspectos da história da igreja, especialmente: evangelização (estratégia da expansão e teologia missionária), política (a relação da igreja com o estado) e culto (desenvolvimento litúrgico e organização formal da igreja).

* IGREJA E CULTO (Novembro-Dezembro)
* IGREJA E POLÍTICA (Janeiro)
* IGREJA E EVANGELIZAÇÃO (Fevereiro)

Será um estudo que tem por finalidade levar nossos amigos leitores a enxergar o grande abismo entre o verdadeiro ideal da igreja cristã e o estado presente de omissão, hierarquização e aburguesamento (com raras exceções).

Necessariamente alguns textos serão controversos. Deles discorde. Essencialmente alguns textos induzirão os nossos pressupostos. A partir destes, discuta. E aos que existirem erros, denuncie!

Agora se alguém reconhecer que os escritos são verdadeiros, não os ignore.

A organização da Igreja Primitiva



As normas exatas da comunidade cristã no primeiro século, assim como a existência de formas, foram e são temas de debates. Isto em parte se explica que nas gerações seguintes os cristãos buscavam na organização do cristianismo primitivo a autoridade para a estrutura de sua seita particular da igreja. Explica-se também pelo caráter fragmentário das evidências, que por isto não nos levam a conclusões incontestes.

Nas duas ou três primeiras gerações, a comunidade cristã apresentava grande variedade. Não existia nenhuma administração central como meio de agrupar as muitas unidades locais da igreja em uma estrutura articulada e única. A igreja de Jerusalém, como o centro inicial de fraternidade cristã, tratou de exercer alguma forma de governo, especialmente na questão muito discutida do grau de ajustamento à lei judaica. Até certo ponto, prestava-se atenção à lei, talvez devido ao respeito mostrado diante das autoridades judaicas estabelecidas em Jerusalém pelas comunidades judaicas de outras partes do mundo gentílico, mas não existia nenhuma maquinaria administrativa para uma superintendência geral. Sua autoridade foi antes de prestígio do que de lei canônica. Sob estas condições, não existia nenhum modelo uniforme de prática e governo eclesiásticos.

Antes que se fechasse o primeiro século, a igreja começou a ensaiar certos passos no sentido da organização que, uma vez desenvolvidos, persistiram, embora com algumas alterações, até o século 20. Sabemos que havia ofícios e oficiais. Proeminentes entre estes eram os diáconos, anciãos e bispos.

Sustentava-se, ao princípio, que o precedente para a eleição de diáconos havia de se fundamentar na eleição dos sete, feito pelos doze apóstolos nos primeiros tempos da igreja de Jerusalém, para fazer frente à distribuição diária de provisões ás viúvas. Embora a relação histórica entre “os sete” e o diaconato de dias posteriores não tenha sido demonstrada plenamente e no Novo Testamento jamais tenhamos menção clara referente à existência de diáconos na igreja de Jerusalém, é indiscutível que depois de uma geração ou duas, em algumas das unidades ou igrejas, os diáconos eram considerados como oficiais característicos sendo provável que tanto mulheres como homens servissem neste ofício.

Pode ser que o ofício de presbítero ou ancião tenha sido sugerido pela organização da sinagoga, onde os anciãos eram parte integrante da estrutura eclesiástica. Pelo menos em várias igrejas locais, houve mais de um bispo e a evidência parece apoiar a idéia de que, em princípio, em algumas, e, talvez em todas as igrejas, os títulos de “ancião” e “bispo” eram permutáveis dentro do mesmo posto oficial.

A uniformidade na estrutura eclesiástica não se conseguiu imediatamente. A primeira menção que se faz a cerca do que parecem ser oficiais ou dirigentes na grande igreja gentílica de Antioquia se refere a profetas e mestres, mas de diáconos, anciãos e bispos nada se fala. Em uma de suas cartas, Paulo não diz nada expressamente em relação a diáconos, anciãos ou bispos, embora algumas de suas palavras possam ser interpretadas neste sentido, mas ele fala de apóstolos, profetas e mestres. Em sua epístola aos Romanos se mencionam profetas, ministros, mestres, exortadores, doutores (talvez diáconos) e presidentes; segundo parece ser a ordem familiar a Paulo. Em outra epístola, a lista é: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. Na primeira geração da igreja de Jerusalém, Tiago, irmão de Jesus, era considerado como líder, mas só mais tarde foi-lhe dado o título de bispo. Parece certo também que a igreja de Jerusalém tinha anciãos. (...)

*Kenneth S. Latourette. História del Cristianismo. El Pasò, Casa Bautista de Publicaciones, 1967. Vol I, pp. 158-161.

02 novembro 2008

“Porque nem todos os que são de Israel são israelitas”

Não seria exagero algum dizer que a igreja contemporânea jamais foi tão desfiada nos seus esforços para manter um padrão bíblico. A medida de seu notável crescimento, também avança dentro da igreja “falsos mestres”, que além de utilizar a igreja aproveitam à mídia (livros, TV, rádio...) para promoverem suas mensagens distorcidas.

Nenhuma geração tem sofrido tanto aos ataques de falsas doutrinas; isso só reforça a necessidade e dedicação ao estudo da Bíblia, e uma cuidadosa atenção aos princípios da interpretação bíblica são imprescindíveis aos cristãos de hoje.

Mesmo entre a comunidade cristã, as falsas interpretações das Escrituras são abundantemente exemplificadas, ilustrando a estupidez de alguns “mestres” de achar que suas heresias são infalíveis, desconhecendo assim as diretrizes gerais para uma interpretação apropriada.

Devemos entender que os ensinamentos de Arminius, Wesley, Zwingli, Calvino ou qualquer outro teólogo, não suplantará a crítica textual quando houver questões sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura.

Tendo o Senhor o conhecimento do curso integral de acontecimentos que são futuros do ponto de vista humano, Deus utiliza Sua Palavra para alertar, admoestar, comunicar fatos que ao homem são impossíveis, assim sendo, demonstra toda Sua graça e poder ao gênero humano.

Ignorando normas da exegese, a doutrina calvinista perde o ponto do equilíbrio e da relação entre a soberania de Deus e a responsabilidade do homem. Não que toda obra e conceito de João Calvino venham a ser desprezados (I Ts 5:21), longe de mim; pois a apreciação de Calvino acerca de um quádruplo ministério, revela que a assistência social estava entre as suas principais preocupações e seu pensamento social sobre riqueza e pobreza, bem-estar social e questões correlatas fazem deste reformador um expoente nesta tese absolutamente necessária à sociedade.

Segundo o próprio adepto da teologia calvinista Charles H. Spurgeon, a doutrina da predestinação é um mistério (incompreensível, inexplicável), que o texto de Romanos 9 é “assustador” (entendemos aqui sua visão da Divindade), e aquele que pensa compreender o propósito deste ensinamento se faz desconhecedor, assim como ele dizendo-se incapaz de explicá-la.

Martinho Lutero para defender esta espúria doutrina fatalista chegou ao ponto de declarar que os homens que rejeitavam a eleição (segundo a teologia calvinista), tentavam impedir “Deus de ser Deus”, e seu conceito determinista ganhou popularidade.

O autor da literatura “Teologia dos reformadores” Timothy George, fala que o conselho básico de Lutero era característico dos eleitos, não dos réprobos, que tremem em face dos desígnios ocultos de Deus.

O trecho em negrito acima nos lembraria alguém? Leiam “Jacó e Esaú” por Charles H. Spurgeon e tirem suas próprias conclusões (é assustador! Rs!).

Mas a questão é: Teria o Senhor Deus prazer em ver homens tomando as atitudes de Faraó, Esaú, Saul, dentre vários outros; e impondo Seu soberano poder os capacitar e predestinar a serem malignos e subsequentemente perderem-se para todo sempre?

Vamos analisar algumas passagens de Romanos 9, texto utilizado como indício por calvinistas para a doutrina bastarda da predestinação fatalista:

“Foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor.
Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú.
Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma.” Rm 9: 12 à 14

Esta passagem das Escrituras que ampararia a idéia do assombroso decreto, examinada sozinha aludi proporcionar apoio para a predestinação fatalista. Mas como texto fora do contexto é pretexto para heresia; vamos esquadrinhá-la.

O capítulo 9 de Romanos trata da eleição de Israel no passado, ou seja, do plano de Deus para a nação judaica. O apóstolo utiliza para melhor compreensão de seus “parentes segundo a carne” (vers. 3), o nome dos antepassados Abraão, Isaque, Jacó e Esaú, para elucidar o propósito de Deus para com os gentios, e como Seu povo Israel que buscava a lei da justiça, não veio a encontrá-la.

Como disse anteriormente as profecias tem como finalidade: alertar, admoestar, comunicar fatos que ao homem são impossíveis e nesta passagem não é diferente!

Porque Deus profetiza a Rebeca que seu filho maior serviria ao menor?

Simplesmente porque tanto Rebeca como nós procederíamos segundo nossa própria limitação e atenderíamos aos desígnios já estabelecidos, e como se entendia que a benção da primogenitura é uma sucessão, logo o abençoado seria Esaú e não o menor Jacó.

Deus então estabelecia segundo Sua presciência “Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal” (vers. 11a) Sua graça, comunicando aos pais o que só Ele poderia saber “o futuro”; o Senhor é conhecedor de todas as coisas, Ele sabia que a geração que iria se levantar através de Esaú (o pai dos Edomitas) seria de enorme hostilidade e crueldade. Um povo sanguinário como este não poderia ser a nação eleita do Deus de Amor!

Então o fato de Paulo dizer “como está escrito” (vers. 13) ratifica o texto de Malaquias citado pelo apóstolo, que fala sobre um povo impiedoso na qual a ira de Deus esta posta para sempre (devido às ações perversas de Edom), e não das pessoas de Jacó e Esaú. Daí a afirmação “De maneira nenhuma” proferida por Paulo ao levantar uma questionamento sobre se Deus estaria agindo com injustiça. O contexto revela “POVOS e não INDIVÍDUOS”!

Literalmente, Esaú jamais serviu a seu irmão Jacó. Quando é dito em Romanos 9:12 que “o mais velho servirá o mais novo”, a profecia somente teve execução com os seus descendentes.

Assim também o versículo 17, que de forma isolada da uma idéia de determinismo por parte de Deus a faraó, mas quando aplicada ao contexto entendemos o contrário da doutrina calvinista:

“Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra.” Rm 9:17

Deus tentaria (induzir ao mal) ao homem? Porque “levantar” com alusão de ver “cair” é maligno; ou não é?

E até onde esse levantar se aplica a este significado, visto a Palavra de Deus em Tiago que diz:

“Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta.
Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.” Tg 1:13-14

O significado é apenas que Deus o levantou como um homem, de forma que Deus lhe deu o seu poder, seus talentos, sua posição, e sua honra; e que Deus o levantou como um rei, de forma que ele lhe deu o seu trono, reino e domínio!

Paulo esta falando sobre eleição e reprovação soberana, então o endurecimento do coração de Faraó é atribuído a Deus, devido seu princípio divino de entregar aos seus próprios desejos (Rm 1:24) os que persistem em rebelião a Sua Palavra (Rm 9:18).

Vejam:

“Como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo; E todo aquele que crer nela não será confundido.” Rm 9:33

Se atentarmos para a proposta estúpida desta doutrina, devemos então entender que Jesus Cristo foi posto por tropeço aos judeus e não como diz as Escrituras em João 1:11 (“Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.”); pela incredulidade dos mesmos é que Cristo foi o tropeço para aquela nação e não porque Deus teria enviado Jesus para ser tropeço ao Seu povo!

Termino este estudo com um convite a todos aqueles que crêem no Deus que não faz acepção, que te ama e chama a todos para um concerto solene em Sua santa e majestosa presença:

“E o Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve diga: Vem. E quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida” (Apocalipse 22.17)

Eduardo Neves.

“E Ele [Jesus] é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1João 2.2)

28 outubro 2008

“Ignorais que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento?”


Vivemos tempos difíceis, em que à sociedade contempla suas paixões infames e continuam não se importando em ter conhecimento de Deus e Sua maravilhosa graça. Assim o pecado vive e reina nos corações insensatos dos néscios, homossexuais, incrédulos e de toda casta iníqua que compõe este ambiente que nos rodeia, trazendo às concupiscências imundas de seus pensamentos a prática rotineira de suas vidas.

Sabemos que a punição por toda esta perversidade, mentira e maldade dos homens é a morte! Rm 6:23

Segundo a teologia calvinista, o homem é incapaz de conhecer a justiça de Deus, sem que este venha a ser atraído e convencido (de forma “exclusiva” e “irresistível”) pelo Espírito Santo ao arrependimento, devido à absoluta depravação do gênero humano.

Surge uma indagação: O apóstolo Paulo cita em sua epístola aos Romanos toda classe de iniqüidade para condenação de seus praticantes (prostituição, malícia, avareza, maldade, inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade e etc.), mas logo em seguida afirma que essas pessoas conhecem a justiça divina! Rm 1:29 à 32

Ora; sendo todos inescusáveis e conhecendo a Deus (segundo a manifestação divina, através de Sua criação), seria impossível os homens ficarem inábeis (desconhecer) do juízo em relação a suas devassas práticas de imoralidade. Rm 1:20-21

Se o homem não tivesse autoconsciência e livre-arbítrio, não teria culpa de absolutamente nada. E um estuprador ou qualquer outro malfeitor não poderia ser acusado nem condenado, pois esta seria sua única opção. Então, Deus, que o criou assim, não poderia puni-lo; afinal, sem livre-arbítrio, ninguém poderia agir de outro modo.

A verdade é que milhões de homens a cada minuto ignoram a benignidade divina, devido à dureza de corações impenitentes, omitindo-os de suas responsabilidades morais, o qual a recompensa será segundo as obras de seus atos. Rm 2:5-6

Sabendo primeiro isto, que nos últimos dias virão escarnecedores, andando segundo as suas próprias concupiscências,
E dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação.
Eles voluntariamente ignoram isto, que pela palavra de Deus já desde a antiguidade existiram os céus, e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste
.” II Pe 3:3 à 5

Vejamos que nos dois primeiros capítulos de Romanos, o apóstolo trata a dureza do coração dos pecadores em referência ao desprezo dos tais a pratica do bem, por isso suas declarações em toda carta fazem analogia ao estado caliginoso dos pecadores que resistem à chamada do Evangelho de Cristo:

Deus lhes deu espírito de profundo sono, olhos para não verem, e ouvidos para não ouvirem, até ao dia de hoje.” Rm 11:8

Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si;” Rm 1:24

O ato de eleição não é (a rigor) parte da aplicação da salvação a nós, visto que se tornou disponível desde antes que Cristo obtivesse a nossa salvação (sacrifício da cruz), mas sabemos que ela é condicionada pela fé mediante a obediência, e não por preferência divina.

O Senhor Deus recompensará cada um segundo as suas obras (“responsabilidades e atos” / “não se entenda obras da lei”); a saber: “A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção;
Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniqüidade
;” Rm 2:6-7-8.

E, sendo ele consumado, veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem;” Heb 5:9

E não é pelo simples fato de serem impostas ao homem responsabilidades sobre suas obras, que faz dele merecer ou obter mérito pela graça concedida, pois toda honra e glórias pertencem aquele que os justifica de seus pecados mediante a fé (prática / Tg 2:14 à 17), a saber, Jesus Cristo.

Então onde reside a total incapacidade do homem “natural” (o termo natural é utilizado por adeptos do calvinismo, porque crêem serem “especiais” / doutrina da graça irresistível)?

Entendemos que os homens devem procurar a verdade que já lhe é oferecida; logo compreendemos que a natureza corrompida não nos torna incapaz ou que vivemos em total escuridão que não tenhamos ciência da justiça de Deus. Esse chamado é ende­reçado a pessoas genuinamente capazes de ouvir o convite e de responder a ele (ou não!).

O Evangelho de Matheus nos elucida muito bem este conceito no capítulo 22 na conhecida “Parábola das bodas”. Primeiramente apontado para os judeus, ela se estende a todos aqueles para quem o evangelho é pregado; notemos também que a salvação oferecida pelo evangelho é rejeitada por muitos daqueles a quem ela é oferecida e que o convite é feito sem predileção (vers. 9).

Percebemos que os diligentes procuraram confirmar a vocação e eleição. Então; logo não seria por preferência, mas por obediência ao Rei!

Tenhamos cuidado de não recusar ao que fala (Heb 12:25). Não durmamos como os demais; pelo contrário, vigiemos e sejamos sóbrios (1 Ts 5:6). O Rei em breve entrará para ver os convidados. Já recebemos ou não a veste nupcial? Já nos revestimos de Cristo? Essa é a grande indagação levantada por esta parábola.

"Muitos são chamados, mas poucos escolhidos". Mt 22:14

Deus endurece aqueles que persistem em rebelião a Sua Palavra (Rm 9:18) e os entrega aos seus próprios desejos (Rm 1:24).

Se voltarmos ao Velho Testamento veremos que as primeiras pragas abrandaram por certo tempo o coração do Faraó, mas quando o Senhor sustava cada praga seu coração endurecia novamente; ou seja, sempre que Deus agia com misericórdia Sua graça estava sendo concedida a Faraó e seu povo, mas devido ao coração impenitente do egípcio, Deus agia segundo seu princípio divino e o entregava aos seus próprios anseios malignos.

Muitos calvinistas utilizam à passagem abaixo de forma isolada para alicerçar sua doutrina fatalista:

Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia.” Rm 9:15

Vamos entendê-la a partir de todo um contexto e não de forma destacada, então para isto vamos ver o motivo destas palavras do Senhor ao Seu servo Moisés:

Então disse o SENHOR a Moisés: Farei também isto, que tens dito; porquanto achaste graça aos meus olhos, e te conheço por nome.
Então ele disse: Rogo-te que me mostres a tua glória.
Porém ele disse: Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti, e proclamarei o nome do SENHOR diante de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer
.” Ex 33:17 à 19.

Fica notório que as atitudes piedosas e benignas de Moisés eram bem vistas aos olhos de Deus! Diferentemente dos atos de muitos, que não eram vistos por Deus dá mesma forma:

Disse mais o SENHOR a Moisés: Tenho visto a este povo, e eis que é povo de dura cerviz.” Êx 32:9

Será que Deus agiria da mesma forma se Moisés tivesse as ações de Arão que atendeu aos pedidos do povo, fazendo assim um bezerro de fundição para adoração pagã dos hebreus?

Deus concede liberdade (livre-arbítrio) ao homem para optar por seu caminho! Ele apenas diz:

Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” Jo 14:6

Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela;
E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem
.” Mt 7:13-14.

Alguém pode resistir à graça de Deus?

Resposta: Faraó e várias gerações ao longo dos séculos.

Logicamente existem conseqüências por esta desobediência ao Senhor.

E qual será o castigo por esta resistência?

Resposta: A mesma punição aplicada a Faraó, e a todos que rejeitam ao chamado de Deus diariamente e se entregam aos seus próprios deleites pecaminosos: morte, maldições e condenação eterna.

Por isso diz Paulo:

“E, se a nossa injustiça for causa da justiça de Deus, que diremos? Porventura será Deus injusto, trazendo ira sobre nós?” Rm 3:5

Seria então a graça irresistível?

“E em nada vos espanteis dos que resistem, o que para eles, na verdade, é indício de perdição, mas para vós de salvação, e isto de Deus.” Fp 1:28

“E, como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé.” II Tim 3:8

“Instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade,
E tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em que à vontade dele estão presos.” II Tim 2:25-26

* (Neste último texto está explícito que os resistentes a graça de Deus são entregues aos seus próprios desejos).

A regra infalível de interpretação da Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que não é múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por outros textos que falem mais claramente.

Eduardo Neves.

“Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens,” Tito 2:11

18 outubro 2008

Se alguém não ama ao Senhor Jesus Cristo, seja anátema. Maranata!


A expressão Maranata (מרנא תא) é composta de dois termos aramaicos que significam “O Senhor vem” ou “Senhor, vem logo!”. O apóstolo Paulo emprega essa palavra em sua primeira epístola aos Coríntios no capítulo 16 versículo 22; e no livro do Apocalipse, João faz a mesma menção à expressão utilizando-a como uma oração, desta feita no idioma grego, e traduzido por: “Vem, Senhor”.
Utilizada nos cultos para invocar a presença de Deus na Ceia, esta expressão anunciava o anseio do povo ao regresso do Senhor para estabelecer seu Reino na terra. O costume da palavra nos tempos da Igreja primitiva apontava uma forte esperança dos cristãos de que Jesus Cristo retornaria; essa certeza era avigorada pelo poder e sinais que Deus operava em seu meio, comprovando que Ele estava vivo e habitava no meio do Seu povo.

Vivemos a consumação do século, a conclusão de um período, e não apenas o passar de um tempo. A tribulação é comparada nas Escrituras "às dores de parto de uma mulher grávida" (1 Ts 5.3); falsos cristos, guerras, fome, terremotos, epidemias e todas estas coisas anunciam o início das dores. Na sua amplitude e dor, essa época será triste e indesejável.

Mas o que vem me chamando mais atenção é a falta de amor no ambiente familiar, revelando infelizmente, lugar de conflito e opressão, ou então vítimas indefesas das numerosas formas de violência que caracterizam a pecaminosa sociedade atual.

O repúdio e maus tratos as crianças são o triste prenúncio de uma paz familiar já gravemente afetada, e que não pode ser restituída, por certo, pelo deplorável recurso da separação dos cônjuges, e, igualmente, pela solução ao divórcio, verdadeira “peste" da sociedade contemporânea.

Abusadores pedófilos, geralmente começam a cometer atos de natureza sexual a crianças em tenra idade, frequentemente extra familiares; no caso de incesto entre pai e filhos, acredita-se que a maioria das agressões envolve pais que são abusadores oportunistas, ao invés de pedófilos.

Aí me lembro desta passagem: “E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará.” Mt 24:12

Vejam:

*Pai mata filho para se vingar da ex-mulher*

Um homem de 25 anos matou o filho de quatro anos a pedradas na manhã de hoje em Gramado Xavier, no Vale do Rio Pardo, e feriu o outro, de um ano e dez meses, com uma facada na nuca. Segundo a Brigada Militar, ele estava separado da mãe das crianças há cerca de duas semanas e, no início da manhã de hoje, entrou da casa da família para se vingar.

Fonte: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Geral&newsID=a1757983.xml&000


*Mãe é presa por oferecer filha para atos sexuais*
Uma mulher de 33 anos foi detida no domingo passado em Sitges (litoral da Barcelona) por oferecer sua filha de dois anos para atos sexuais, informou a Guarda Civil nesta quarta-feira.
Fonte:
http://bbcnews.com.br/index.php?p=noticias&cat=172&nome=Brasil&id=112242


Notícias como essas invadem nossas casas diariamente, através da televisão, internet, jornais e outros veículos de comunicação.

Entendo que a família é essencial e indispensável comunidade educadora, é a condução privilegiada para a comunicação daqueles valores benévolos e éticos que ajudam o indivíduo a adquirir a própria identidade. Baseada no amor deve a família levar em si o futuro da sociedade; empreitada sua bem particular, é a de fornecer eficazmente este sentimento de ternura para todas as crianças, formando um amanhã de paz.


Da mesma forma, hoje a Igreja que vive em comunhão com o Senhor e experimenta as manifestações do seu poder com dons espirituais e sinais que confirmam a pregação da Palavra, aguardam com ansiedade a volta gloriosa do Senhor Jesus para arrebatar a Igreja, não se cansando de proclamar que “O Senhor Jesus voltará” e de rogar: “Maranata! Vem, Senhor Jesus”.

Devemos buscar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus, o renovo do Senhor nos capacitará a ver o que no momento não estamos vendo como Igreja.

Precisamos orar ao Senhor e dizer: “Maranata! Vem, Senhor Jesus”.

Sonho com uma igreja saudável, centrada em Cristo e na sua Palavra. Frutificando vida e multiplicando a imagem do Senhor Jesus. O cuidado de uns aos outros (verdadeiros irmãos), e não uma hipocrisia moralista e enganosa que tenho visto em alguns antros.

Estejamos confiantes que se aproxima o fim do mundo; que no último dia, Cristo descerá dos céus e levantará os mortos do túmulo para a recompensa ou condenação final.

Isabella de Oliveira Nardoni, de cinco anos de idade, é jogada do apartamento por seu pai localizado no sexto andar; o menino João Hélio Fernandes Vieites, de apenas 6 anos, morreu após ser arrastado por mais de sete quilômetros ... a voz do sangue destas e de milhões de crianças clamam ao Senhor Deus desde a terra!

“Maranata! Vem, Senhor Jesus”.

Eduardo Neves / Indignado com a covardia contra as crianças e querendo desesperadamente a volta de Jesus Cristo!!!

05 outubro 2008

A conquista do mundo pelo discipulado

A Grande Comissão, dada por Jesus aos seus discípulos e registrada em Mateus 28.19-20 tem sido a nossa grande omissão durante os séculos. Não herdamos das últimas gerações e nem temos tido a preocupação suficientemente eficaz para reverter essa cultura. Nesse texto há apenas um imperativo: “Fazei discípulos”. Os demais verbos existentes são ações complementares e resultantes desse imperativo. Quando lemos Colossenses 1.27-29 e II Timóteo 2.2, não podemos negar a urgência desse ultimato e o desafio estratégico que o nosso Senhor estabeleceu, e que foram tão bem entendidos e praticados pelo apóstolo Paulo.

Cada vez me convenço mais de que o discipulado é a única estratégia capaz de nos levar à conquista do mundo para Cristo. Trata-se da mais importante atividade da Igreja e, por conseguinte, de cada crente. Todas as ações de uma igreja deveriam ter como objetivo principal fazer discípulos. Às vezes, invertemos o mandamento: enfatizamos a edificação da igreja, e não das pessoas; desejamos instituições fortes, e não crentes fortes. Discipulado é forjar pessoas comprometidas com o Senhor, capazes de impactar o mundo em cada geração.

Discipulado é vida na vida! É transmissão de vida, e não apenas de conhecimentos. Jesus disse que devemos aprender dele, e não apenas com ele. Mas nossa preferência é usar o texto de Hebreus 12.1, que nos insta a olhar para Jesus, e não o de I Coríntios 11.1 (“Sede meus imitadores, como também sou de Cristo”). Com certeza, precisamos olhar para Jesus, mas também é fundamental que mantenhamos uma vida que possa ser imitada pelos outros, que os desafie a serem leais e fiéis a Jesus. Discipulado é discípulo ao lado ou de si para o lado; é um relacionamento de aprendizado entre o mestre e o aluno baseado no modelo de Jesus. É a maneira divina para evitar a má nutrição espiritual e a fraqueza dos filhos espirituais. É o único método que produz crentes maduros que poderão cooperar na transformação de um povo e evitar a sua deterioração espiritual e moral.

Um novo crente logo precisa aprender sobre a morte de si mesmo, conforme lemos em Gálatas 2.19,20 e Lucas 9.23; sobre o amor aos irmãos (João 13.34,35) e sobre a reprodução João 15.8 e II Timóteo 2.2. Além disso, deve ser exortado a permanecer na Palavra (João 8.31) e a evidenciar em sua vida as quatro marcas do caráter de Jesus – obediência, submissão à vontade de Deus, amor aos outros e vida de oração. Deve ainda desejar conhecer intimamente a Deus, dispor de tempo necessário para a vida devocional, manter um coração submisso e contrito e ter disposição para fazer outros discípulos.

Para que isso possa acontecer, é preciso tomar todos os cuidados necessários: em primeiro lugar, o discipulado deve começar antes mesmo de a pessoa ter um encontro pessoal com Jesus. Os semeadores da Palavra devem se preocupar em preparar o terreno antes de lançar a preciosa semente do Evangelho por meio de relacionamentos intencionais. Preparar a terra significa muita oração, dependência do Espírito Santo e desenvolvimento de bons relacionamentos, à medida do possível. Quase sempre, as pessoas que se convertem são trazidas a Cristo por parentes, amigos, colegas de trabalho ou de estudo. Por isso, devemos sempre estar orando por aqueles que estão perdidos – ou seja, “adubar” a terra em todas as chances que aparecerem. Não devemos reclamar da falta de oportunidades; ao contrário, nós mesmos devemos criá-las.

Em segundo lugar, o discipulador deve fazer um apelo bem claro para que a pessoa entregue sua vida a Jesus e o aceite como Salvador e Senhor. Um apelo confuso pode criar uma boa estatística, mas uma difícil integração. O apelo deve ser acompanhado de um bom aconselhamento; e a decisão por Cristo deve ser festejada, especialmente por gente da família, amigos e por toda a igreja! Não é esse o dia mais importante na vida de uma pessoa?

Em terceiro lugar, o novo crente deve ser visitado dentro das 48 horas após sua decisão, tendo à disposição, se possível, um estudo bíblico em sua casa, pois assim seus familiares e pessoas próximas também teriam a chance de estudar a Palavra de Deus. Além disso, ele já estaria automaticamente inserido num programa de multiplicação (discipulado), pois o estudo que recebesse poderia, mais tarde, ser transmitido para outras pessoas, consoante II Timóteo 2.2.

Em quarto lugar, o discipulando, quando terminasse essa primeira série de estudos, e enquanto já estivesse fazendo uma segunda série, poderia acompanhar o seu discipulador quando ele estivesse ensinando a mesma primeira série noutra casa, até que, num terceiro momento, ele pudesse fazer o trabalho sozinho. Assim, haveria discípulos fazendo discípulos que fariam discípulos, e assim sucessivamente. Jesus dedicou seu ministério terreno a dois grupos: os discípulos e a multidão. Todos sabem onde está a sua multidão, mas poucos sabem onde está o seu pequeno grupo.Vamos avançar!

*Nilton Antonio de Souza - Missionário da Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira e atua como gerente de Evangelismo e Discipulado e coordenador de Evangelismo e Missões da Convenção Batista Carioca

28 setembro 2008

Existe ou não a predestinação?

Não creio na predestinação individual, como se Deus houvesse amado a um mais do que a outros, antes mesmo de nascerem. Não consigo conceber o Criador traçando um plano para salvar os “previamente amados” e condenar outros, os “menos amados”, sem sequer lhes dar a opção de escolherem se querem ou não a salvação. É impossível conceber a idéia de que o Senhor ame mais alguns do que outros; que tenha previamente determinado à salvação de uns e a condenação de outros; que todos teriam um destino predefinido antes mesmo de nascer.

Se o homem não tivesse autoconsciência e livre-arbítrio, não teria culpa de absolutamente nada. E um estuprador ou qualquer outro malfeitor não poderia ser acusado nem condenado, pois esta seria sua única opção. Então, Deus, que o criou assim, não poderia puni-lo; afinal, sem livre-arbítrio, ninguém poderia agir de outro modo.

A Bíblia fala de eleição (1 Cr 16.13; Is 65; Rm 11; Cl 3.12; Tt 1.1; 1 Pe 1.2; Ap 17.14) e de predestinação (Rm 8.29,30; Ef 1.5,11). Mas não num sentido individual. Tais textos se referem ao destino coletivo dos santos do Antigo e do Novo Testamento; aqueles que deliberadamente escolhem obedecer a Deus e à Sua Palavra.

No Novo Testamento, os eleitos de Deus são todos aqueles que creram em Jesus e aceitaram o senhorio dele, tornando-se seus imitadores e filhos do Pai celestial. A partir dessa experiência pessoal, chamada de salvação, tais pessoas passaram a desfrutar da comunhão com Deus pelo Espírito Santo que veio habitar nos cristãos, para moldá-los à imagem divina de Jesus, de quem se tornaram irmãos e co-herdeiros, tendo direito ao céu e à vida eterna (ver Rm 8.17; 2 Co 3.18; Ef 3.6; 4.12,13,30; 5.1).

É claro que Deus, sendo onisciente, sabe de todas as coisas, inclusive quem será salvo e quem não será. Mas isto não significa que Ele tenha predestinado uns para o céu, e outros para o inferno. Afinal, Deus criou o ser humano e concedeu-lhe livre-arbítrio, responsabilizando-o pelos seus atos e por suas escolhas. Se não fosse assim, a promessa de salvação não seria condicional: aquele que perseverar até ao fim será salvo (Mt 10.22; 24.13; Mc 13.13). Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida (Ap 2.10).

Deus deseja que todos se salvem, mas muitos não atendem ao seu chamado. Se não existisse livre-arbítrio, o pecado da humanidade teria sido um plano do próprio Deus, como se Ele tivesse traçado esse destino de pecado e morte para o homem. Isso é um absurdo teológico!

Logo, a incompreensão dos conceitos de eleição e de predestinação tem servido de base para a defesa de uma “predestinação fatalista”, que não tem base bíblica; a qual se vale de um texto sem o contexto. Isto infringe a hermenêutica bíblica e compromete a sã doutrina cristã.

Por fim, deixamos um texto do Antigo Testamento que serve de alerta e de base para todos aqueles que desejam ser salvos e tornar-se eleitos e predestinados ao céu: "Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao SENHOR, escolha hoje a quem sirvais; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habita; porém eu e a minha casa serviremos ao SENHOR." Josué 24.15

Que as bênçãos de Deus sejam derramadas sobre sua vida.

*Pr. Silas Malafaia - Psicólogo, vice-presidente da Assembléia de Deus na Penha (RJ), vice-presidente do CIMEB – Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil –, coordena e apresenta o Vitória em Cristo, este programa está há mais de 25 anos ininterruptos na televisão, sendo transmitido por várias emissoras em rede nacional.

15 setembro 2008

Discípulo: Ética e ação

Não são poucos os textos já produzidos que focalizam as técnicas de gerar e de formar discípulos de Cristo. Os enfoques pendulam do khrugma (proclamação) do Reino gracioso de Deus para arrependimento e conversão a Jesus, ou seja, a busca de discípulos, à didach (instrução) cristã, dirigida ora aos recém-convertidos, ora à comunidade evangélica em geral. Assim, encontramos tanto os discursos que privilegiam a anunciação cristã quanto os que enfatizam os aspectos parenéticos. É nítido, entretanto, que os ensinamentos centrados apenas no bom comportamento ficam aquém da didakhé primitiva. Reduzida ao nível dos procedimentos, o poder de transformação social da instrução é apagado e, naturalmente, o da proclamação, enfraquecido.

O Novo Testamento enumera os vícios individuais do “velho homem”: adultério, ira, jactância, bebedeira, dissensões, embriaguez, inimizades, fingimento, inveja, insensatez, murmuração, prostituição, mentira, malícia, desobediência aos pais e calúnia, entre outros, dos quais o cristão deve separar-se. As paixões carnais que lutam contra a alma deverão ser vencidas. Entre a virtude e o vício, o caminho a ser escolhido pelo filho de Deus é o da primeira. Mas a relação denunciante dessas práticas é apenas um lado da moeda parenética. Enquanto encontramos partes significativas de conselhos que são apresentados sob a perspectiva negativa, há também um grande número de valores positivos –: amor aos inimigos, oração pelos perseguidores, perdão, misericórdia, justiça, bondade, humildade, fé com obras, trabalho em grupo para o bem comum, renovação mental e espiritual etc. De acordo com a Escritura, são práticas e virtudes que devem compor o caráter do cristão.

Se as instruções – que induzem os sujeitos sociais a produzirem e alterarem a história –– forem consideradas somente a partir do que se deve evitar, o cristão “se isentará do mundo”, tenderá a fechar-se em seu universo religioso e a renunciar ao seu papel de produtor de transformação social. Quando muito, suas ações se restringirão a uma proclamação centrada ou em questões espirituais, ou em comportamentos de afastamento.

Tomemos como exemplo o amor. Se as ações concretas universais forem desconsideradas ou particularmente reinterpretadas, a educação cristã se reservará ao ensino da prática caridosa pontual, da realização de trabalhos ínfimos para mero desencargo de consciência e um amor corporativo – ou, mais restritamente, de amor entre os iguais. Essa visão de cristianismo criou santos com alto grau de insensibilidade. Fica evidente, assim, que as instruções de Cristo têm amputada a sua parte essencial.

Por sua vez, no Novo Testamento há um contínuo gradativo e crescente: o amor de Deus ao mundo, descrito em João 3.16, nos proporciona a capacidade de amar (I João 4.19) não só a Deus (Marcos 12.33), mas também aos irmãos, conforme I João 4.11, e àqueles que estão no limite das relações – e ainda aos que, odiando os cristãos, permitem que o amor extravase e atinja o seu grau máximo de realização, mencionado em Mateus 5.44.

Não se deve pensar que essas instruções estejam reduzidas à proclamação, como se o amor aos irmãos, ao próximo e aos inimigos pudesse ser limitado ao anúncio do Reino ou a algum conjunto de normas para o bom comportamento; “amar a Deus”, em tal perspectiva, seria apenas o cumprimento dessa missão. Pensar dessa maneira faz-nos ter uma fé incompleta, imperfeita e, não menos, falseada. Conseqüências ética e teologicamente funestas dessa postura é a irresponsável transferência do bem – que compete ao novo homem fazer – à direta ação divina, e a crença de que o mal em todas as esferas, contra o qual a Igreja deveria opor-se concretamente, é conseqüência da condição humana decaída, que só poderia ser tratada pelo Senhor. Em outras palavras, equivale a dizer que só a divindade pode fazer alguma coisa, seja o bem seja o mal, o que anula a verdade de que a Igreja representa deu Deus perante o mundo.

É por essas razões que não é raro encontrarmos, dentro de uma mesma comunidade cristã, como algo completamente natural, pessoas que desfilam carros importados e outros que vão e voltam a pé para suas casas distantes; gente ostentando etiquetas de grife e irmãos que só têm uma muda de roupa; famílias cobertas pelos melhores planos de saúde e pais que não têm como tratar de um filho doente. Isso sem falar no disparate de encontrar na congregação quem gaste R$ 500 em um jantar e os que dependem da generosidade alheia na forma de cestas básicas.

Nessa perspectiva, nega-se que pela instrução perpetuam-se idéias vivas cujo fim é agir sobre o mundo natural, influenciando-o a reverter seu estado de miséria, de injustiça, de diferenças sociais e de ignorância. São os bons frutos que a boa árvore deve produzir, conforme Mateus 7.17. Proclamar “Senhor” e ensinar outros a dizer o mesmo sem a legitimidade de ações bondosas com poder de transformação é construir o indivíduo cristão em fundamento pusilânime. Em outras palavras, é investimento vazio no Reino de Deus. “Pois assim como o corpo sem espírito cadáver é, assim também a fé sem obras cadáver é” (Tiago 2.17). As didakhaí de Jesus relacionam moral e ética com misericórdia, compassividade, hospitalidade, bondade, mansidão – mesmo que, no limite, o princípio da reciprocidade não seja respeitado.

Da lista de conselhos que Paulo prescreveu aos cristãos em Roma, há que se destacar dois: o primeiro, circunscrito na relação interna com a comunidade – “Tornando-vos comum com as necessidades dos santos”; e o segundo, “Perseguindo o amor ao estrangeiro” (Romanos 12.13), demonstra a necessidade da relação externa com o mundo. Assim, o discípulo completo é o que em seu lugar age segundo a totalidade das instruções, e quanto mais estiver disposto a satisfazer as exigências do discipulado, maior será a sua entrega àquele que o chamou e maior será o seu poder de proclamação. Quanto a isso, nada mais contundente do que as metáforas de ação e de presença universais: “Vós sois a luz do mundo; a cidade que jaz sobre o monte não pode ser escondida” (Mateus 5.14)

Moisés Olímpio Ferreira - Doutorando em Filologia e Língua Portuguesa pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, professor de Grego, Exegese do Novo Testamento e Hermenêutica

29 agosto 2008

Mulher, onde estão aqueles teus acusadores?



A história de Shelley Lubben


Shelley Lubben nasceu em 1968 e cresceu no Sul da Califórnia. Era a mais velha de três irmãos, tendo uma personalidade forte a que ela chamava de “personalidade impetuosa.”

Durante os primeiros oito anos da vida de Shelley, a sua família ia a uma igreja evangélica. Numa entrevista ela disse: “Quando era criança, conheci e amava muito a Jesus.”

Contudo, quando fez nove anos as coisas mudaram muito para Shelley e a sua família. Eles foram para uma pequena cidade, tendo deixado tudo o que Shelley tinha conhecido e amado.

Os meus pais deixaram de ir à igreja e a nossa família afastou-se de Deus”, disse Shelley.

Ao crescer, Shelley sentia-se diferente das outras crianças.

De criança alegre a prostituta. Após sofrer violência sexual, aos 9 anos, Shelley teve sua vida transformada - para pior.

“Eu era muito criativa, e escrevia poesia e pequenas histórias desde muito novinha. Os meus pais não me envolveram em atividades extra-curriculares e a maior parte do tempo sentia-me muito entediada e frustrada”, disse ela. A minha professora do primeiro ano reparou na criatividade que havia em mim e disse à minha mãe que estava maravilhada comigo. Ela cria que eu me tornaria numa atriz de Hollywood ou numa realizadora de cinema.”


PROCURANDO AMOR SÓ EM LUGARES ERRADOS

Havia também outras coisas que eram diferentes com Shelley, segundo a própria.

“Eu também era peculiar no fato de que comecei a masturbar-me, e a ter tendências sexuais numa idade muito nova. Eu fui introduzida à sexualidade por uma garota e o irmão dela, adolescente, quando tinha nove anos de idade, e desde então tive vários encontros sexuais tanto com meninas como com rapazes antes dos 18 anos. O sexo tornou-se para mim confuso. O sexo para mim significava ‘amor’, pois sentia-me bem ao receber atenção, mas ao mesmo tempo sentia-me suja.”

Quando adolescente, Shelley buscou amor nos rapazes e afundou-se no álcool e no sexo com a idade de 16 anos. Os seus anos de adolescência foram cheios de constante reclamação e discussão.

Ela disse, “Tive uma mãe que se irava comigo a maior parte do tempo, e um pai que parecia demasiado ocupado para se relacionar comigo, a não ser gritar comigo por falar nas costas da minha mãe. Eu comecei a beber álcool e a usar drogas com a idade de 16 anos. Os meus pais tentaram aconselhamento familiar, mas o meu pai estava demasiado ‘ocupado’ e só participou uma vez. Por fim, como sua última façanha, pediram-me para me ir embora de casa quando fiz 18 anos”.

Shelley acabou por ir parar a San Fernando Valley sem dinheiro nem comida.

“Um homem ‘gentil’ viu que eu estava angustiada e disse-me quão pesaroso estava, oferecendo-se para me ‘ajudar’,” disse Shelley. “Tudo o que eu tinha de fazer era ter sexo com um amigo seu, dando-me dinheiro por isso. Eu estava tão indignada por os meus pais me terem expulso de casa que não me preocupei com nada, por isso aceitei a oferta. Vendi-me por US$35, começando assim uma vida de prostituição”.

A vida de Shelley entrou numa espiral descontrolada.

"Em pouco tempo encontrei uma senhora que me introduziu na faceta ‘encantadora’ da prostituição”, disse Shelley. “No princípio pareceu sensacional, mas esta vida depressa se converteu em escravatura. Passei a ter sexo bizarro com estranhos e comecei a odiá-lo. O meu estilo de vida estava a tornar-se cada vez pior, e sentia-me como não tendo para onde me voltar. Jesus continuava a bater à porta do meu coração, mas eu ignorava-o.

O ciclo vicioso de Shelley ao trabalhar como prostituta e dançarina exótica na Califórnia do Sul durou oito anos. Ao trabalhar como prostituta engravidou, tendo tido assim a sua primeira filha, Tiffany, com a idade de 20 anos. Ela tentou recuar e fazer apenas dança exótica, mas disse que foi muito difícil resistir à prostituição.

Depois de alguns anos como mãe solteira e de trabalhar como prostituta e dançarina, Shelley começou a beber exageradamente tendo desenvolvido uma terrível dependência do álcool e das drogas.

Shelley disse, “A Tiffany cresceu como uma triste menina negligenciada, e a inocência dela foi muitas vezes violada. Quando ela cresceu apercebeu-se que eu era ‘visitada’ por homens estranhos, e ficou zangada comigo. Eu comecei então a ver-me como um completo fracasso.”

À medida que a jornada dolorosa de Shelley progredia, ela envolveu-se na indústria de filmes para adultos. Descobriu que era uma forma de realizar dinheiro fácil, “ e era mais ‘lícito’ do que a prostituição.”

Shelley disse, “Comecei a fazer muitos filmes hardcore, e só as drogas e o álcool me permitiam fazê-los. Era como se eu tivesse algo para provar ao mundo e a todos os que me tinham magoado. E quando a indústria porno abriu-me os seus enormes braços e me convidou para a sua família, encontrei finalmente aceitação.”

Porém o preço que Shelley teve de pagar por esta “membresia” foi enormíssimo. Ela disse, “Eu vendi o meu coração, mente e feminidade à indústria porno, e a mulher e pessoa em mim morreram na pornografia.”

Shelley também se arriscou a ficar infectada com o vírus da SIDA como aconteceu com outras estrelas porno. Ela disse, “A indústria não obrigava nem ainda obriga o uso do preservativo, por isso o HIV e STD eram e ainda são um risco para os atores e atrizes porno. Em Maio de 2004, cinco atores pornográficos tiveram testes positivos relativamente ao vírus da SIDA. Eu tive mais sorte do que esses atores. Deus não permitiu que eu contraísse o vírus da SIDA. Contudo fui infectada com herpes, uma doença incurável sexualmente transmissível. Fiquei totalmente de rastos e quis pôr termo à minha vida.”

Como resultado, Shelley tomou uma overdose de comprimidos e cortou os pulsos, mas parecia que fizesse ela o que fizesse, não conseguia morrer. Deus tinha um plano para a sua vida, mas a dor era esmagadora e ela estava a ter terríveis variações de humor. Só o álcool e as drogas podiam ajudar a sua dor, disse ela.

Eu clamei a Jesus para que me ajudasse e tentei deixar o meu estilo de vida,” disse ela, “ mas no espaço de uma semana voltei ao ciclo vicioso. Eu perdi toda a esperança e odiava a minha vida. Depois que contraí herpes deixei calmamente a indústria porno mas ainda me prostituía para sobreviver.”

Em 1994 Shelley conheceu Garrett. Ele tinha 22 anos de idade, e Shelley disse que ele era inocente, comparado com ela. “Eu disse-lhe que cobrava dinheiro para namorar,” disse ela. “Ele fingiu necessitar dos meus ‘serviços’ para uma festa de solteiros, por isso dei-lhe o meu cartão. Ele telefonou-me muitas vezes para sair, mas continuei a recusar. Mais tarde, por alguma razão da parte de DEUS, mudei de ideia e tornámo-nos amigos.”

Shelley disse que enquanto ela tentou manter a relação distante foi difícil, porque Garrett fazia com que ela se sentisse de novo uma menina.

“Ele vinha ter comigo e entrávamos em êxtase com anfetaminas, jogando damas e cartas durante horas”, disse ela. “Falávamos da vida e um dia falamos ambos de Jesus. Como crianças, ambos crescemos a amar e a conhecer Jesus Cristo. Para duas pessoas que se encontraram num bar, isto foi uma “coincidência” admirável. Nós sabíamos que fora Deus, por isso reentregamos as nossas vidas a Jesus, e casamos em Fevereiro de 1995.

CAMPEÕES PARA JESUS

Deus conduziu Garrett e Shelley a uma igreja chamada Centro Campeão em Tacoma, Washington, onde Shelley disse que aprenderam a viver uma vida “Campeã”.

“Descobri que havia permanentemente em mim um Campeão,” disse Shelley. “Aprendi que podia vencer tudo, porque com Deus tudo é possível. Com Deus, tive verdadeiro perdão de todos os meus pecados e oportunidade de me transformar numa pessoa completamente nova sem ser perfeita primeiro. Isso foi um alívio! Também aprendi que Deus tinha um propósito para a minha vida. Deus tinha um propósito para a minha vida? Isso era como alguém acender-me a luz.”

Em Novembro de 1999, Shelley deu à luz outra filha, Abigail, e apesar de ter bebido álcool durante parte da gravidez, Deus poupou-lhe a vida.

Após o parto, Deus respondeu finalmente às minhas orações e libertou-me completamente do álcool,” disse Shelley. “No dia 9 de Abril de 2000 foi quando me libertei totalmente, tendo constituído um acontecimento muito importante na minha vida. Comecei a ler livros sobre como ser uma melhor mãe e esposa. Aprendi a cozinhar e a cuidar do meu lar e a viver uma vida ‘normal’. Passei a praticar os princípios de Deus em tudo o que faço, e comecei a experimentar verdadeira alegria pela primeira vez em 13 anos.

Shelley disse que depois que foi naquele primeiro dia ao Centro Campeão abatida e destroçada, oito anos depois ela tornou-se numa mulher totalmente curada e entusiasmada para viver a vida.

Ela disse, “Deus livrou-me completamente das drogas, da dependência do álcool, das más recordações, da doença mental, da dependência sexual, do trauma sexual, e de todo o meu passado.”

Shelley disse que o seu futuro é glorioso. “Deus agora envia-me a proclamar ao mundo a realidade do Seu tremendo amor, dizendo como Ele fez cada um de nós à Sua imagem, e somos completamente amados e aceites por Ele; dizendo como Ele enviou o Seu Filho Jesus para nos libertar das drogas, alcoolismo, dependência sexual, rejeição e todas as mentiras de Satanás.”

Ela acrescentou, “Gosto de mostrar ao mundo que se Deus pode mudar uma estrela porno e uma prostituta numa Campeã, Ele pode mudar qualquer pessoa. Porém Deus só muda as vidas daqueles que O escolheram. Josué 24:15 diz, ‘... escolhei hoje a quem sirvais; ... porém eu e a minha casa serviremos ao SENHOR.’ Esta foi a melhor escolha que fiz.”

* Por Jeremy Reynalds.

Glória ao Senhor Deus pela vida desta mulher!!! Aleluia!!! Exemplos como este nos edificam e renovam nossas forças para perseverar cada vez mais!!!

*Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.* II Tm 4.7