16 dezembro 2008

Igreja e Culto – Parte 6


"A origem da Ceia"

(...) Até recentemente o conceito tradicional era que a Última Ceia fora a Páscoa, celebrada por nosso Senhor com seus discípulos pela última vez na noite de Sua traição. A evidência, porém, foi reexaminada. (...)

Uma nova proposta sustenta que a Última Ceia deriva de um simples refrigério, compartilhada semanalmente por pequenos grupos de homens judeus, geralmente por um rabino e seus discípulos. Seu propósito era prepará-los para o sábado ou para um festival e tinha um caráter religioso. Consistia numa prática religiosa seguida por uma refeição simples, de pão comum e vinho misturado com água, passando o copo um ao outro, e por orações. Esta refeição era conhecida como a “Kiddush” e se observava comumente em círculos piedosos de então, especialmente em círculos messiânicos. É quase seguro que nosso Senhor e seus discípulos estavam acostumados a participar desta refeição comunitária nas vésperas de cada sábado e festivais: assim, a “Última Ceia” foi à última delas que compartilharam.
Se a Páscoa tivesse começado na “noite em que foi traído”, nosso Senhor não teria podido ser julgado e executado neste mesmo dia, porque era contra a lei dos judeus celebrar um juízo ou uma execução durante a Páscoa. (...)

O caráter da Última Ceia era fundamente diferente da Páscoa. A Páscoa era um festival estritamente familiar; a “Kiddush” sempre era observada por um grupo de amigos homens. Durante a Páscoa se oferecia um cordeiro pascal; isto falta na Última Ceia, embora essencial para a Páscoa. Era necessário também pão sem levedo, mas na “kiddush” se usava sempre pão comum levedado; todos os relatos assinalam especificamente que na Última Ceia se comeu pão comum. Na Páscoa se usavam vários copos; na Última Ceia, como na “kiddush”, só houve um copo. Durante a Páscoa lia-se invariavelmente a passagem que narra o êxodo do Egito; não há menção alguma disto na Última Ceia.

(...) Desde o começo, a Ceia do Senhor foi celebrada com freqüência e uma celebração semanal logo se tornou prática aceita. A “Kiddush” também era celebrada semanalmente, mas a Páscoa só uma vez por ano. O costume subseqüente mostra claramente que os discípulos compreenderam das ações e palavras de nosso Senhor que deviam celebrar a eucaristia com freqüência; isto seria improvável se a Última Ceia tivesse sido a Páscoa anual e não a Kiddush semanal.
Ademais, o vinho do “kiddush” se misturava com água a moda oriental comum; e esta tem sido, exceto na Igreja Arminiana, a prática universal da Igreja ao celebrar a eucaristia.

*Willian D. Maxwell. El culto cristiano; su evolución y sus formas. Buenos Aires, Methopress, 1963. pp. 19-21.