18 janeiro 2009

Igreja e Política - Parte 3

A Semente Revolucionária na Comunidade Primitiva

Há muitas indicações de que os sentimentos hostis da Igreja primitiva aos governos em geral e ao Império Romano em particular foram mais profundos que uma análise superficial descobriria. As causas da antipatia são profundas:

1. Havia um preconceito generalizado contra o Estado como sendo não-cristão.

O grande abismo cristão e pagãos levou os cristãos a olharem todos os que não estavam do seu lado como fundamentos comprometidos com o mal. Mesmo Paulo, geralmente visto como modelo de lealdade e mesmo como um advogado do direito divino dos reis, traçou um quadro muito negro do mundo não-cristão em geral; (...) ele se referiu aos magistrados pagãos em geral como “injustos”, não simplesmente porque fossem maus em seu trabalho, mas simplesmente porque eram pagãos (I Co 6:1). (...)

2. Havia o elemento judaico na Igreja.

Não podemos ignorar que as igrejas acima e abaixo do Mediterrâneo tinham uma proporção considerável de judeus, embora esta proporção seja de difícil explicitação; é altamente improvável que os convertidos judeus lavassem nas águas do batismo cada partícula daquele ódio ao Império Romano que marcava a sua raça.

3. Havia o elemento de descontentamento social e econômico.

As comunidades cristãs consistiam em grande parte pelas classes pobres nas grandes cidades – pessoas às quais a paz imperial, governando numa era de confusões e tumultos, conferiu pouco da tranqüila prosperidade auferida pelas altas classes sociais em geral. Sob a aparência externa de tranqüilidade e felicidade geral, fervilhava, sem dúvida, um descontentamento geral diante da desigualdade e injustiça da ordem vigente das coisas no Estado e na sociedade.

4. Havia a tendência de interpretar erroneamente a nova e valiosa doutrina da liberdade do homem cristão.

A recusa de submeter-se às obrigações comuns da vida social (...) Paulo e Pedro frequentemente recordam seus leitores contra a tendência a abusar de sua liberdade cristã. (...)
De todas estas razões, podemos concluir que, ao lado do estímulo dado ao preconceito cristão pela perseguição, havia indubitavelmente um considerável elemento de radicalismo revolucionário dentro das comunidades cristãs.

Cecil Cadoux. The early church ant the world. Edinburgh, T.&T. Clark, 1955. pp. 98-99.