28 maio 2008

A Soberania Divina no Velho Testamento


Uma segunda objeção é respondida e um segundo passo no argumento é afirmado. Deus não é injusto caso escolha um homem ou uma nação para um propósito superior e outro para um propósito inferior, um homem para Sua misericórdia e outro para Sua ira. Como é mostrado pelas Escrituras, Ele tem absoluta liberdade no exercício de Sua soberania divina. São Paulo está argumentando contra um oponente definido, um típico judeu, e ele deduz das premissas a validade do que esse judeu deve admitir, a saber, a concepção de Deus contida no Velho Testamento. Lá é claramente declarada a soberania de Deus, ou, em outras palavras, Seu poder e direito de dispor o curso das ações humanas como Ele deseja. Ele poderia escolher Israel para um ofício elevado e Edom para uma papel vil. Ele poderia escolher Moisés como um exemplo de Sua misericórdia e Faraó como um exemplo de Sua ira. Se isto for admitido, Ele pode (sobre razões que o judeu deve admitir), se quiser, escolher alguns judeus e alguns gentios para o elevado propósito de serem membros de Seu reino messiânico, enquanto rejeita para um papel inferior a maioria do povo eleito.


Este é o argumento de São Paulo. Por essa razão não há nenhuma necessidade de suavizar (como alguns têm tentado fazer) a aparentemente severa expressão do versículo 18, que Ele ‘endurece a quem quer.’ São Paulo não diz nada mais do que havia dito em 1.20-28, onde ele descreveu a perversidade final do mundo como, de certo modo, resultado da ação divina. Em ambas as passagens ele está isolando um lado da ação divina; e ao fazermos deduções teológicas de sua linguagem, estas passagens devem ser contrabalançadas por outras que envolvem o amor divino e a liberdade humana. Será necessário fazer isto ao final da discussão. No momento, devemos estar satisfeitos com a conclusão de São Paulo, que Deus, como soberano, tem o direito e poder absoluto de dispor as vidas dos homens como quiser.


Não devemos suavizar a passagem. Por outro lado, não devemos extrair um significado além do que ela contém, como, por exemplo, faz Calvino. Ele introduz várias idéias estranhas, que São Paulo fala de eleição para salvação e de reprovação para morte, que os homens foram criados para que possam perecer, que a ação de Deus não somente poderia ser como foi arbitrária: Hoc enim vult efficere apud nos, ut in ea quae apparet inter electos et reprobos diversitate, mens nostra contenta sit quod ita visum fuerit Deo, alios illuminare in salutem, alios in mortem excaecare... Corruit ergo frivolum illud effugium quod de praescientia Scholastici habent. Neque enim praevideri ruinam impiorum a Domino Paulus tradit, sed eius consilio et voluntate ordinari, quemadmodum et Solomo docet, non modo praecognitum fuisse impiorum interitum, sed impios ipsos fuisse destinato creatos ut perirent.


O apóstolo não diz nada sobre vida ou morte eterna. Ele não diz nada sobre os princípios de acordo com os quais Deus age. Ele nunca diz que Sua ação é arbitrária (ele provará no devido tempo que ela não é assim), mas somente que se ela for, nenhum judeu que aceita a Escritura tem algum direito de reclamar. Ele nunca diz ou deixa implícito que Deus criou o homem para que pudesse condená-lo. O que ele diz é que, em Seu governo do mundo, Deus reserva a Si mesmo completa liberdade de lidar com o homem sob Suas próprias condições e não sob as do homem. Dessa forma, Gore, op. cit. p. 40, resume o argumento: ‘Deus sempre se revelou como Aquele que preserva Sua liberdade de escolha, como Aquele que recusa se restringir, como Aquele que escolhe os exemplos históricos de seu juízo endurecedor e de Sua boa vontade compassiva, de forma a frustar todas as tentativas de nossa parte de produzir Suas vocações por nossos próprios esforços, ou de antecipar as pessoas que Ele usará para Seus propósitos de misericórdia ou de juízo.’


*William Sanday e A. C. Headlam.