Divisão Social do Cristianismo
(...) O Cristianismo foi estendendo-se a todas as camadas da sociedade antiga. Seus primeiros êxitos tiveram lugar entre os elementos mais humildes do povo: um grupo de pescadores da Galiléia se constituiu em seu núcleo primitivo e mais tarde seriam recebidos favoravelmente pelos humildes das cidades mediterrâneas: os escravos, os livres e os artesãos. A todos estes, a esperança do Reino que havia de vir e a mensagem cristã de fraternidade universal proporcionavam força e consolo.
O Cristianismo, todavia, não se definia unicamente como a religião dos pobres e seria falso ver nele uma expressão da consciência coletiva do protelariado da antiguidade. Embora seja verdade que haja custado muito ganhar para a nova religião os camponeses; a propaganda cristã se estendeu rapidamente às cidades fora dos setores populares. Já em tempos de Nero e Domiciano, despertavam simpatias e faziam prosélitos entre a aristocracia romana, embora esta, em seu conjunto, permanecesse como um dos últimos bastiães do paganismo declinante. As classes médias receberam desde o princípio a boa nova: na época apostólica, Áquila e Priscila possuíam uma casa em Roma e outra em Éfeso, bastantes amplas para receber a Igreja local (Rm 16.5; I Co 16.19). Os apologistas e os pais alexandrinos representavam uma burguesia culta. As indicações de Plínio (começo do séc. II) são corroboradas mais de 100 anos depois por Tertuliano em termos quase idênticos: os dois assinalaram a existência de pessoas de todas as condições sociais entre os cristãos. A presença de cristãos no exército, na alta administração e mesmo na corte do imperador (sobretudo no século II) trouxe à Igreja graves problemas práticos: como era possível conciliar estas atividades, organicamente vinculadas ao paganismo, com o Cristianismo que professavam? O concílio espanhol de Elvira, em princípios do século IV, teve que recordar aos fiéis que não deviam aceitar a função de acender a chama no culto ao Imperador; estas posições antinômicas contribuíram em grande proporção para a gênese das grandes perseguições, em particular a de Diocleciano.
*Marcel Simon y André Benoit. El judaísmo y el Cristianismo antugo. Barcelona, Labor, 1972.