A questão da Catolicidade da Igreja
Ao final do primeiro século, o que falta ao Cristianismo para chegar à unidade e à coesão? Fundir suas unidades em uma Igreja. A idéia Católica ainda não nasceu, embora a comunhão em Cristo e a fraternidade dos fiéis estabeleceram entre eles vínculos evidentemente compreendidos sob esta denominação: a Igreja. Os partidários da primazia de Pedro, dispostos a admitir que ele foi o primeiro papa de Roma e que depois dele uma série ininterrupta de pontífices se têm sucedido em seu trono, sustentam que desde os tempos de Clemente a soberania da Santa Sé estava admitida na cristandade (...) Fixam-se também na Epístola aos Coríntios, atribuída a Clemente, e que teria sido escrita por ele na qualidade de papa e como uma advertência papal. É preciso ver nela, entretanto, um conselho fraternal, uma exortação à paz. O tom da carta não é de modo algum autoritário. Ademais, o anonimato que guarda o autor, como também a ausência de uma fórmula capaz de justificar as pretensões que se lhe atribuem, provam que não as têm. (...) Ainda têm tirado da Epístola de Inácio aos romanos expressões que, somente falseadas parecem confirmar a tese da supremacia da Igreja romana: “Ela preside no lugar do país dos romanos” e “é presidente da caridade”. Essas fórmulas vagas e obscuras não contêm outra coisa senão uma alusão à importância da Igreja, localizada na capital do Império, e um elogio de seu espírito de amor. As outras cartas de Inácio têm fórmulas análogas e nada se pode deduzir disto. No “Pastor”, de Hermas, livro de meados do século II, e provavelmente de origem romana, a Igreja não é mais que a Sociedade dos cristãos, simbolizada por uma torre que o “Pastor”, anjo da penitência, edifica com as pedras que representam os fiéis. Sua organização não está regulamentada e não se faz menção alguma da primazia de Pedro, embora o “Cânon de Muratori” atribua a composição do “Pastor” ao próximo irmão do bispo romano Pio I.
Ao final do primeiro século, o que falta ao Cristianismo para chegar à unidade e à coesão? Fundir suas unidades em uma Igreja. A idéia Católica ainda não nasceu, embora a comunhão em Cristo e a fraternidade dos fiéis estabeleceram entre eles vínculos evidentemente compreendidos sob esta denominação: a Igreja. Os partidários da primazia de Pedro, dispostos a admitir que ele foi o primeiro papa de Roma e que depois dele uma série ininterrupta de pontífices se têm sucedido em seu trono, sustentam que desde os tempos de Clemente a soberania da Santa Sé estava admitida na cristandade (...) Fixam-se também na Epístola aos Coríntios, atribuída a Clemente, e que teria sido escrita por ele na qualidade de papa e como uma advertência papal. É preciso ver nela, entretanto, um conselho fraternal, uma exortação à paz. O tom da carta não é de modo algum autoritário. Ademais, o anonimato que guarda o autor, como também a ausência de uma fórmula capaz de justificar as pretensões que se lhe atribuem, provam que não as têm. (...) Ainda têm tirado da Epístola de Inácio aos romanos expressões que, somente falseadas parecem confirmar a tese da supremacia da Igreja romana: “Ela preside no lugar do país dos romanos” e “é presidente da caridade”. Essas fórmulas vagas e obscuras não contêm outra coisa senão uma alusão à importância da Igreja, localizada na capital do Império, e um elogio de seu espírito de amor. As outras cartas de Inácio têm fórmulas análogas e nada se pode deduzir disto. No “Pastor”, de Hermas, livro de meados do século II, e provavelmente de origem romana, a Igreja não é mais que a Sociedade dos cristãos, simbolizada por uma torre que o “Pastor”, anjo da penitência, edifica com as pedras que representam os fiéis. Sua organização não está regulamentada e não se faz menção alguma da primazia de Pedro, embora o “Cânon de Muratori” atribua a composição do “Pastor” ao próximo irmão do bispo romano Pio I.
Além do que, era impossível conceber a unidade católica antes que cada comunidade fosse provida de um clero uniformemente constituído. (...) Ao final do século I, a cristandade marcha, entretanto, para a formação desta idéia católica, justamente porque tende a abandonar a direção de suas comunidades a um clero que trabalhará com ardor para constituir a unidade do dogma e da disciplina.
Em princípio, a Eclésia, a assembléia dos fiéis, permanece soberana; algumas alterações, entretanto, vão se processar:
1 – Diminuição da autoridade dos inspirados e tendência a reduzir, na vida comum da Igreja, a importância dos carismas.
2 – Desconfiança em relação aos didáscalas, ou profetas ambulantes, para favorecer os funcionários locais.
3 – Atribuição de funções cada vez mais particulares aos presbíteros, com exclusão do simples fiel; assim, acontece com a unção do azeite aos enfermos de que fala a Epístola de Tiago. Ao mesmo tempo, afirmação da idéia de que eles têm direito de ser obedecidos nos limites de suas funções, porque têm a responsabilidade das almas que dirigem (Epístolas aos Hebreus).
4 – Concessão aos funcionários encarregados da parte material da administração da Igreja (bispos e diáconos) de atribuições religiosas, em caso de necessidade, e, sobretudo de um ministério litúrgico, proibido aos leigos (I Coríntios, de Clemente de Roma) que começa a acontecer.
5 – Tendência a confundir nas mesmas pessoas as funções de instrução, de edificação e as funções administrativas; isto é,a tendência a dividir a assembléia cristã em duas partes cada vez mais distintas: os clérigos e os leigos, reduzidos estes últimos ao papel de assistentes.
6 – Marcha para o episcopado monárquico.
*Charles Guignebert, Manual de História Antigua del Cristianismo. Buenos Aires, Albatros, 1973. pp. 404-410.
(Esta foi a última parte deste estudo sobre o desenvolvimento litúrgico e a organização formal da igreja ["Igreja e Culto"]. No mês de Janeiro, estaremos abordando o tema ["Igreja e Política"] histórico da relação da igreja com o estado.)
Desejo à todos um "Feliz 2009" e que O grande El Shaday abençõe todos nós. Amém!
Em Cristo,
Eduardo Neves.