A Grande Comissão, dada por Jesus aos seus discípulos e registrada em Mateus 28.19-20 tem sido a nossa grande omissão durante os séculos. Não herdamos das últimas gerações e nem temos tido a preocupação suficientemente eficaz para reverter essa cultura. Nesse texto há apenas um imperativo: “Fazei discípulos”. Os demais verbos existentes são ações complementares e resultantes desse imperativo. Quando lemos Colossenses 1.27-29 e II Timóteo 2.2, não podemos negar a urgência desse ultimato e o desafio estratégico que o nosso Senhor estabeleceu, e que foram tão bem entendidos e praticados pelo apóstolo Paulo.
Cada vez me convenço mais de que o discipulado é a única estratégia capaz de nos levar à conquista do mundo para Cristo. Trata-se da mais importante atividade da Igreja e, por conseguinte, de cada crente. Todas as ações de uma igreja deveriam ter como objetivo principal fazer discípulos. Às vezes, invertemos o mandamento: enfatizamos a edificação da igreja, e não das pessoas; desejamos instituições fortes, e não crentes fortes. Discipulado é forjar pessoas comprometidas com o Senhor, capazes de impactar o mundo em cada geração.
Discipulado é vida na vida! É transmissão de vida, e não apenas de conhecimentos. Jesus disse que devemos aprender dele, e não apenas com ele. Mas nossa preferência é usar o texto de Hebreus 12.1, que nos insta a olhar para Jesus, e não o de I Coríntios 11.1 (“Sede meus imitadores, como também sou de Cristo”). Com certeza, precisamos olhar para Jesus, mas também é fundamental que mantenhamos uma vida que possa ser imitada pelos outros, que os desafie a serem leais e fiéis a Jesus. Discipulado é discípulo ao lado ou de si para o lado; é um relacionamento de aprendizado entre o mestre e o aluno baseado no modelo de Jesus. É a maneira divina para evitar a má nutrição espiritual e a fraqueza dos filhos espirituais. É o único método que produz crentes maduros que poderão cooperar na transformação de um povo e evitar a sua deterioração espiritual e moral.
Um novo crente logo precisa aprender sobre a morte de si mesmo, conforme lemos em Gálatas 2.19,20 e Lucas 9.23; sobre o amor aos irmãos (João 13.34,35) e sobre a reprodução João 15.8 e II Timóteo 2.2. Além disso, deve ser exortado a permanecer na Palavra (João 8.31) e a evidenciar em sua vida as quatro marcas do caráter de Jesus – obediência, submissão à vontade de Deus, amor aos outros e vida de oração. Deve ainda desejar conhecer intimamente a Deus, dispor de tempo necessário para a vida devocional, manter um coração submisso e contrito e ter disposição para fazer outros discípulos.
Para que isso possa acontecer, é preciso tomar todos os cuidados necessários: em primeiro lugar, o discipulado deve começar antes mesmo de a pessoa ter um encontro pessoal com Jesus. Os semeadores da Palavra devem se preocupar em preparar o terreno antes de lançar a preciosa semente do Evangelho por meio de relacionamentos intencionais. Preparar a terra significa muita oração, dependência do Espírito Santo e desenvolvimento de bons relacionamentos, à medida do possível. Quase sempre, as pessoas que se convertem são trazidas a Cristo por parentes, amigos, colegas de trabalho ou de estudo. Por isso, devemos sempre estar orando por aqueles que estão perdidos – ou seja, “adubar” a terra em todas as chances que aparecerem. Não devemos reclamar da falta de oportunidades; ao contrário, nós mesmos devemos criá-las.
Em segundo lugar, o discipulador deve fazer um apelo bem claro para que a pessoa entregue sua vida a Jesus e o aceite como Salvador e Senhor. Um apelo confuso pode criar uma boa estatística, mas uma difícil integração. O apelo deve ser acompanhado de um bom aconselhamento; e a decisão por Cristo deve ser festejada, especialmente por gente da família, amigos e por toda a igreja! Não é esse o dia mais importante na vida de uma pessoa?
Em terceiro lugar, o novo crente deve ser visitado dentro das 48 horas após sua decisão, tendo à disposição, se possível, um estudo bíblico em sua casa, pois assim seus familiares e pessoas próximas também teriam a chance de estudar a Palavra de Deus. Além disso, ele já estaria automaticamente inserido num programa de multiplicação (discipulado), pois o estudo que recebesse poderia, mais tarde, ser transmitido para outras pessoas, consoante II Timóteo 2.2.
Em quarto lugar, o discipulando, quando terminasse essa primeira série de estudos, e enquanto já estivesse fazendo uma segunda série, poderia acompanhar o seu discipulador quando ele estivesse ensinando a mesma primeira série noutra casa, até que, num terceiro momento, ele pudesse fazer o trabalho sozinho. Assim, haveria discípulos fazendo discípulos que fariam discípulos, e assim sucessivamente. Jesus dedicou seu ministério terreno a dois grupos: os discípulos e a multidão. Todos sabem onde está a sua multidão, mas poucos sabem onde está o seu pequeno grupo.Vamos avançar!
*Nilton Antonio de Souza - Missionário da Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira e atua como gerente de Evangelismo e Discipulado e coordenador de Evangelismo e Missões da Convenção Batista Carioca