28 novembro 2008

Igreja e Culto - Parte 3


...“Origens do Culto Primitivo”...
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(...) O culto cristão se diferencia de todos os demais, porque se dirige ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Seu desenvolvimento é peculiar porque o Espírito Santo está com e na Igreja para aconselhá-la e dirigi-la desde o dia de Pentecoste. É isto que dá ao enfoque histórico do culto, validade peculiar e importância prática.

O Novo Testamento foi redigido antes que o culto cristão alcançasse seu desenvolvimento pleno, porém não nos deixa sem um testemunho claro. O livro de Atos retrata a vida primitiva da Igreja, e as epístolas e o Apocalipse acrescentam outros detalhes. Quatro coisas sobressaem:

1. Pelo menos por algum tempo os cristãos continuaram participando do culto nas sinagogas e no templo;

2. Os cristãos compartilhavam frequentemente uma refeição comum conhecida como o “ágape” ou festa do amor.

3. Usualmente, ao terminar o “ágape”, e, às vezes à parte dele, os cristãos celebravam a eucaristia em obediência ao mandamento de nosso Senhor dado na última ceia.

4. Esta ação era seguida, geralmente, de profecias ou discursos em línguas, um exercício extático para o qual alguns tinham dons especiais, mas que devia ser cuidadosamente controlado, como se pode ver nas admoestações de Paulo acerca da questão. Em uma época relativamente cedo, aproximadamente na metade do segundo século, os elementos 2 e 4 desapareceram da vertente principal do culto cristão. Por conseguinte, não precisamos nos ocupar deles. Limitar-nos-emos a atentar para os dois elementos permanentes que derivam respectivamente da sinagoga e do cenáculo.

A leitura e exposição das Sagradas Escrituras em um ambiente de louvor e adoração constituíram desde o princípio um dos elementos essências do culto cristão. Esta é uma herança direta da sinagoga judaica.

Nosso Senhor mesmo, “como era de costume”, participava regularmente do culto das sinagogas; a primeira coisa que o apóstolo Paulo procurava, ao chegar a uma cidade, era à sinagoga; e os cristãos de origem judaica amavam a sinagoga e seus costumes, onde haviam adorado e recebido sua educação desde a meninice. Era, portanto, de se esperar que quando os cristãos fossem expulsos das sinagogas, seu culto seguisse linhas similares e contivesse muitos dos elementos anteriores.

Pelo contrário, o culto do Templo deixou poucos vestígios sobre o culto cristão e isto por duas razões principais:

1. A grande maioria dos judeus da Dispersão nunca participaram do culto do Templo e, mesmo na Palestina, o verdadeiro lugar do culto judaico no tempo de nosso Senhor se encontrava nas sinagogas; ademais, para os cristãos de origem pagã pouco significavam o Templo e seu culto.

2. Quarenta anos depois da morte de nosso Senhor, o Templo foi destruído pelos romanos para não ser reconstruído nunca mais; as sinagogas permaneceram. (...)

O culto cristão não era uma cópia exata do culto da sinagoga. Havia uma ênfase e um conteúdo novos de acordo com a nova revelação e para expressar o novo espírito. O centro de interesse passou da Lei para os livros proféticos. Logo, embora demorasse mais de um século para que o cânon se determinasse, as Escrituras começaram a tomar forma, incluindo as cartas e memórias dos apóstolos e de outros, coleções dos ditos e os atos de nosso Senhor Jesus Cristo, e finalmente o Apocalipse. (...)

A tudo os cristãos primitivos acrescentaram outro elemento derivado diretamente de nosso Senhor, a perpetuação em oração e comunhão sacramental da experiência do cenáculo. (...) A experiência estava carregada com o poder da ressurreição; e, em obediência à exortação apostólica, logo se tornou costume a celebração da Ceia do Senhor no primeiro dia da semana, ao raiar da manhã, na hora em que Ele se lhes aparecera, como hora do culto. O dia do Senhor não era a sexta-feira, dia da Sua morte, mas o domingo, o dia da Sua ressurreição; e a esse dia pertencia o seu mais exaltado ato de culto, no qual exibiam vitoriosamente Sua morte na eucaristia, pelo que Ele mesmo, seu Senhor ressuscitado, estava presente com eles. Não tinham nenhuma teoria da presença de nosso Senhor no sacramento tal como as que viriam dividir a Igreja em dias posteriores, mas o conheciam como um fato da experiência espiritual, como uma realidade vívida.

Reunindo, então, as referências ao culto que aparecem no Novo Testamento à luz da história posterior – um procedimento razoável já que a história prossegue – chegamos a uma descrição geral só no fim do primeiro século.

Primeiro; o que surgiu da sinagoga: lições da Bíblia (I Tm 4:13; I Ts 5:27; Cl 4:16), salmos e hinos (I Co 14:26; Ef 5:19; Cl 3:16), oração em comum (At 2:42; I Tm 2:1-2) e améns da congregação (I Co 14:16), um sermão ou exposição (I Co 14:26, At 20:7), uma confissão de fé, embora não necessariamente a recitação formal de um credo (I Co 15:1-4; I Tm 6:12) e talvez ofertas (I Co 16:1-2; II Co 9:10-13; Rm 15:26).

Segundo, geralmente junto com esses elementos, a celebração da Ceia do Senhor, derivada da experiência do cenáculo (I Co 10:16, 11:23; Mt 26:26-28; Mc 14:22-24; Lc 22:19-20). A oração de consagração incluiria ação de graças (Lc 22:19; I Co 11:23, 14:16; I Tm 2:1), recordação da morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo (At 2:42; Lc 22:19; I Co 11:23,25,26), intercessão (Jo 17) e talvez a recitação da oração do Senhor (Mt 6:9-13; Lc 11:2-4). É provável que nesta parte do culto houvesse cantos e o ósculo santo (Rm 16:16; I Co 16:20; I Ts 5:26; I Pe 5:14). Os homens e as mulheres estavam separados como nas sinagogas; os homens, de cabeça descoberta, e as mulheres, de véu (I Co 11:6-7). A atitude para a oração era por-se de pé (Fp 1:27; Ef 6:14; I Tm 2:8).

Desta maneira o culto cristão, como extressão distinta e autóctone, nasceu da fusão da sinagoga e o cenáculo, no crisol da experiência cristã. Assim fundidos, cada um contemplando e estimulando o outro, converteram-se na norma do culto cristão. O culto cristão conheceu outras formas de expressão, mas estas pertencem à periferia e não ao centro. O culto típico da Igreja se pode encontrar até o dia de hoje na união do culto da sinagoga e a experiência do cenáculo; essa união data dos tempos do Novo Testamento.

*Willian D. Maxwell. El culto cristiano; su evolucion y sus formas. Buenos Aires, Methopress, 1963. pp. 16-21

24 novembro 2008

Igreja e Culto – Parte 2


O caráter especificamente cristão dos cultos da Igreja primitiva

(...) Os cultos tinham a finalidade de edificar a comunidade como corpo de Cristo, como corpo espiritual do Ressuscitado. Como corpo de Cristo, a Igreja tomará forma em suas assembléias. Assim, ao reunir-se a comunidade se edifica a si mesma como Igreja. E como a Igreja assim edificada é o corpo espiritual do Ressuscitado, podemos afirmar também que Cristo mesmo está representado pela Assembléia da comunidade. (...)

(...) Este fim purifica o culto de todos os elementos que só satisfazem necessidades profanas, egocêntricas e humanas, mas não exclui o iluminismo que possa arrebatar ao culto sua riqueza sob o pretexto de depurá-lo. O partir do pão, a leitura das Escrituras, a pregação, a confissão de fé, as orações, as doxologias, as bênçãos, os hinos litúrgicos e espontâneos, a profecia controlada, a glossolalia e a interpretação de línguas, todos estes elementos diversos que encontramos no culto da Igreja primitiva concorrerão exclusivamente para a edificação da Igreja como corpo de Cristo. Por isto não cremos que estes elementos fazem do homem o único agente principal do culto; é a comunidade congregada que é o órgão do qual Cristo se serve para representar seu corpo como Igreja. Por isto se requerem carismas especiais para o exercício dos diversos elementos da liturgia, e a assembléia é a posse de um dom que Deus outorga aos homens. Somente na glossolalia é o Espírito mesmo que “geme” (Rm 8:26), porque nas orações e confissões, na adoração e nos hinos, e particularmente na divisão do pão, é o Senhor que atua.

(...) A ceia é o ponto culminante da qual todo o culto primitivo se centraliza e sem a qual não se pode concebê-lo. É na ceia que Cristo, o crucificado e o ressuscitado, se une a Sua Igreja e ela a Ele, na ceia Ele a “edifica” verdadeiramente como Seu corpo (I Co 10:17). Assim sendo, também todos os outros elementos do culto têm como objeto o ressuscitado, Senhor da Igreja, desta maneira, o dia da ressurreição é o dia do culto do Seu povo; por isto, a pregação não visa outra coisa senão despertar e fortalecer a fé nesse Senhor morto e ressuscitado. A leitura da Bíblia concede testemunho Dele somente; a confissão dos pecados apela à expiação e a reconciliação, obras Suas; a oração é, antes de tudo, uma súplica para que venha, gloriosamente ao fim dos tempos, mas que antecipe já esta vinda com Sua aparição na Igreja congregada.

O culto primitivo é essencialmente uma criação do Espírito Santo. Assim vemos porque no centro da assembléia cristã está o Senhor atual da Igreja que, de uma parte, remete ao Jesus histórico crucificado e ressuscitado, e, por outra, anuncia o Cristo que virá. O que caracteriza o Espírito Santo segundo a doutrina novi-testamentária é, efetivamente, que Ele condiciona o presente no desenvolvimento do período da salvação, e que vem apregoar antecipando já o fim, o porvir, sobre a base do que no passado se realizou em Cristo. Essa essência do Espírito Santo pode ser percebida de modo claro no culto da Igreja primitiva. Nele se realiza a partir de Cristo no presente, tudo o que se manifestará no momento da parousia. (...)

A Igreja cristã é o lugar do Espírito Santo e Ele se manifesta de maneira particular nos cultos dos primeiros tempos. É verdade que os mistérios gregos e sua intensa vida litúrgica conhecem também o Espírito. Entretanto, Ele era entendido como a transcendência penetrando na imanência. Por seu lado, na Igreja é o futuro que se realiza no presente sobre o fundamento passado; em outras palavras, é o cumprimento da esperança futura, antecipada no culto da Igreja. Este caráter temporal do Espírito Santo se reflete na essência mesma do culto cristão, razão por que não se trata da representação de um mito, já que a ação presente de Cristo está firmemente ligada aos fatos históricos do passado e aos que a Igreja aguarda para o futuro.

*Oscar Culmann. Lá fé y el culto em la Iglesia primitiva. Madrid, Sutidium, 1971. pp. 177-179

21 novembro 2008

Igreja e Culto - Parte 1

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Nos próximos meses estarei postando aqui no “Entendes tu o que lês?” sobre a História do Cristianismo!

Vou apontar ligeiramente alguns aspectos da história da igreja, especialmente: evangelização (estratégia da expansão e teologia missionária), política (a relação da igreja com o estado) e culto (desenvolvimento litúrgico e organização formal da igreja).

* IGREJA E CULTO (Novembro-Dezembro)
* IGREJA E POLÍTICA (Janeiro)
* IGREJA E EVANGELIZAÇÃO (Fevereiro)

Será um estudo que tem por finalidade levar nossos amigos leitores a enxergar o grande abismo entre o verdadeiro ideal da igreja cristã e o estado presente de omissão, hierarquização e aburguesamento (com raras exceções).

Necessariamente alguns textos serão controversos. Deles discorde. Essencialmente alguns textos induzirão os nossos pressupostos. A partir destes, discuta. E aos que existirem erros, denuncie!

Agora se alguém reconhecer que os escritos são verdadeiros, não os ignore.

A organização da Igreja Primitiva



As normas exatas da comunidade cristã no primeiro século, assim como a existência de formas, foram e são temas de debates. Isto em parte se explica que nas gerações seguintes os cristãos buscavam na organização do cristianismo primitivo a autoridade para a estrutura de sua seita particular da igreja. Explica-se também pelo caráter fragmentário das evidências, que por isto não nos levam a conclusões incontestes.

Nas duas ou três primeiras gerações, a comunidade cristã apresentava grande variedade. Não existia nenhuma administração central como meio de agrupar as muitas unidades locais da igreja em uma estrutura articulada e única. A igreja de Jerusalém, como o centro inicial de fraternidade cristã, tratou de exercer alguma forma de governo, especialmente na questão muito discutida do grau de ajustamento à lei judaica. Até certo ponto, prestava-se atenção à lei, talvez devido ao respeito mostrado diante das autoridades judaicas estabelecidas em Jerusalém pelas comunidades judaicas de outras partes do mundo gentílico, mas não existia nenhuma maquinaria administrativa para uma superintendência geral. Sua autoridade foi antes de prestígio do que de lei canônica. Sob estas condições, não existia nenhum modelo uniforme de prática e governo eclesiásticos.

Antes que se fechasse o primeiro século, a igreja começou a ensaiar certos passos no sentido da organização que, uma vez desenvolvidos, persistiram, embora com algumas alterações, até o século 20. Sabemos que havia ofícios e oficiais. Proeminentes entre estes eram os diáconos, anciãos e bispos.

Sustentava-se, ao princípio, que o precedente para a eleição de diáconos havia de se fundamentar na eleição dos sete, feito pelos doze apóstolos nos primeiros tempos da igreja de Jerusalém, para fazer frente à distribuição diária de provisões ás viúvas. Embora a relação histórica entre “os sete” e o diaconato de dias posteriores não tenha sido demonstrada plenamente e no Novo Testamento jamais tenhamos menção clara referente à existência de diáconos na igreja de Jerusalém, é indiscutível que depois de uma geração ou duas, em algumas das unidades ou igrejas, os diáconos eram considerados como oficiais característicos sendo provável que tanto mulheres como homens servissem neste ofício.

Pode ser que o ofício de presbítero ou ancião tenha sido sugerido pela organização da sinagoga, onde os anciãos eram parte integrante da estrutura eclesiástica. Pelo menos em várias igrejas locais, houve mais de um bispo e a evidência parece apoiar a idéia de que, em princípio, em algumas, e, talvez em todas as igrejas, os títulos de “ancião” e “bispo” eram permutáveis dentro do mesmo posto oficial.

A uniformidade na estrutura eclesiástica não se conseguiu imediatamente. A primeira menção que se faz a cerca do que parecem ser oficiais ou dirigentes na grande igreja gentílica de Antioquia se refere a profetas e mestres, mas de diáconos, anciãos e bispos nada se fala. Em uma de suas cartas, Paulo não diz nada expressamente em relação a diáconos, anciãos ou bispos, embora algumas de suas palavras possam ser interpretadas neste sentido, mas ele fala de apóstolos, profetas e mestres. Em sua epístola aos Romanos se mencionam profetas, ministros, mestres, exortadores, doutores (talvez diáconos) e presidentes; segundo parece ser a ordem familiar a Paulo. Em outra epístola, a lista é: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. Na primeira geração da igreja de Jerusalém, Tiago, irmão de Jesus, era considerado como líder, mas só mais tarde foi-lhe dado o título de bispo. Parece certo também que a igreja de Jerusalém tinha anciãos. (...)

*Kenneth S. Latourette. História del Cristianismo. El Pasò, Casa Bautista de Publicaciones, 1967. Vol I, pp. 158-161.

02 novembro 2008

“Porque nem todos os que são de Israel são israelitas”

Não seria exagero algum dizer que a igreja contemporânea jamais foi tão desfiada nos seus esforços para manter um padrão bíblico. A medida de seu notável crescimento, também avança dentro da igreja “falsos mestres”, que além de utilizar a igreja aproveitam à mídia (livros, TV, rádio...) para promoverem suas mensagens distorcidas.

Nenhuma geração tem sofrido tanto aos ataques de falsas doutrinas; isso só reforça a necessidade e dedicação ao estudo da Bíblia, e uma cuidadosa atenção aos princípios da interpretação bíblica são imprescindíveis aos cristãos de hoje.

Mesmo entre a comunidade cristã, as falsas interpretações das Escrituras são abundantemente exemplificadas, ilustrando a estupidez de alguns “mestres” de achar que suas heresias são infalíveis, desconhecendo assim as diretrizes gerais para uma interpretação apropriada.

Devemos entender que os ensinamentos de Arminius, Wesley, Zwingli, Calvino ou qualquer outro teólogo, não suplantará a crítica textual quando houver questões sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura.

Tendo o Senhor o conhecimento do curso integral de acontecimentos que são futuros do ponto de vista humano, Deus utiliza Sua Palavra para alertar, admoestar, comunicar fatos que ao homem são impossíveis, assim sendo, demonstra toda Sua graça e poder ao gênero humano.

Ignorando normas da exegese, a doutrina calvinista perde o ponto do equilíbrio e da relação entre a soberania de Deus e a responsabilidade do homem. Não que toda obra e conceito de João Calvino venham a ser desprezados (I Ts 5:21), longe de mim; pois a apreciação de Calvino acerca de um quádruplo ministério, revela que a assistência social estava entre as suas principais preocupações e seu pensamento social sobre riqueza e pobreza, bem-estar social e questões correlatas fazem deste reformador um expoente nesta tese absolutamente necessária à sociedade.

Segundo o próprio adepto da teologia calvinista Charles H. Spurgeon, a doutrina da predestinação é um mistério (incompreensível, inexplicável), que o texto de Romanos 9 é “assustador” (entendemos aqui sua visão da Divindade), e aquele que pensa compreender o propósito deste ensinamento se faz desconhecedor, assim como ele dizendo-se incapaz de explicá-la.

Martinho Lutero para defender esta espúria doutrina fatalista chegou ao ponto de declarar que os homens que rejeitavam a eleição (segundo a teologia calvinista), tentavam impedir “Deus de ser Deus”, e seu conceito determinista ganhou popularidade.

O autor da literatura “Teologia dos reformadores” Timothy George, fala que o conselho básico de Lutero era característico dos eleitos, não dos réprobos, que tremem em face dos desígnios ocultos de Deus.

O trecho em negrito acima nos lembraria alguém? Leiam “Jacó e Esaú” por Charles H. Spurgeon e tirem suas próprias conclusões (é assustador! Rs!).

Mas a questão é: Teria o Senhor Deus prazer em ver homens tomando as atitudes de Faraó, Esaú, Saul, dentre vários outros; e impondo Seu soberano poder os capacitar e predestinar a serem malignos e subsequentemente perderem-se para todo sempre?

Vamos analisar algumas passagens de Romanos 9, texto utilizado como indício por calvinistas para a doutrina bastarda da predestinação fatalista:

“Foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor.
Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú.
Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma.” Rm 9: 12 à 14

Esta passagem das Escrituras que ampararia a idéia do assombroso decreto, examinada sozinha aludi proporcionar apoio para a predestinação fatalista. Mas como texto fora do contexto é pretexto para heresia; vamos esquadrinhá-la.

O capítulo 9 de Romanos trata da eleição de Israel no passado, ou seja, do plano de Deus para a nação judaica. O apóstolo utiliza para melhor compreensão de seus “parentes segundo a carne” (vers. 3), o nome dos antepassados Abraão, Isaque, Jacó e Esaú, para elucidar o propósito de Deus para com os gentios, e como Seu povo Israel que buscava a lei da justiça, não veio a encontrá-la.

Como disse anteriormente as profecias tem como finalidade: alertar, admoestar, comunicar fatos que ao homem são impossíveis e nesta passagem não é diferente!

Porque Deus profetiza a Rebeca que seu filho maior serviria ao menor?

Simplesmente porque tanto Rebeca como nós procederíamos segundo nossa própria limitação e atenderíamos aos desígnios já estabelecidos, e como se entendia que a benção da primogenitura é uma sucessão, logo o abençoado seria Esaú e não o menor Jacó.

Deus então estabelecia segundo Sua presciência “Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal” (vers. 11a) Sua graça, comunicando aos pais o que só Ele poderia saber “o futuro”; o Senhor é conhecedor de todas as coisas, Ele sabia que a geração que iria se levantar através de Esaú (o pai dos Edomitas) seria de enorme hostilidade e crueldade. Um povo sanguinário como este não poderia ser a nação eleita do Deus de Amor!

Então o fato de Paulo dizer “como está escrito” (vers. 13) ratifica o texto de Malaquias citado pelo apóstolo, que fala sobre um povo impiedoso na qual a ira de Deus esta posta para sempre (devido às ações perversas de Edom), e não das pessoas de Jacó e Esaú. Daí a afirmação “De maneira nenhuma” proferida por Paulo ao levantar uma questionamento sobre se Deus estaria agindo com injustiça. O contexto revela “POVOS e não INDIVÍDUOS”!

Literalmente, Esaú jamais serviu a seu irmão Jacó. Quando é dito em Romanos 9:12 que “o mais velho servirá o mais novo”, a profecia somente teve execução com os seus descendentes.

Assim também o versículo 17, que de forma isolada da uma idéia de determinismo por parte de Deus a faraó, mas quando aplicada ao contexto entendemos o contrário da doutrina calvinista:

“Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra.” Rm 9:17

Deus tentaria (induzir ao mal) ao homem? Porque “levantar” com alusão de ver “cair” é maligno; ou não é?

E até onde esse levantar se aplica a este significado, visto a Palavra de Deus em Tiago que diz:

“Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta.
Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.” Tg 1:13-14

O significado é apenas que Deus o levantou como um homem, de forma que Deus lhe deu o seu poder, seus talentos, sua posição, e sua honra; e que Deus o levantou como um rei, de forma que ele lhe deu o seu trono, reino e domínio!

Paulo esta falando sobre eleição e reprovação soberana, então o endurecimento do coração de Faraó é atribuído a Deus, devido seu princípio divino de entregar aos seus próprios desejos (Rm 1:24) os que persistem em rebelião a Sua Palavra (Rm 9:18).

Vejam:

“Como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo; E todo aquele que crer nela não será confundido.” Rm 9:33

Se atentarmos para a proposta estúpida desta doutrina, devemos então entender que Jesus Cristo foi posto por tropeço aos judeus e não como diz as Escrituras em João 1:11 (“Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.”); pela incredulidade dos mesmos é que Cristo foi o tropeço para aquela nação e não porque Deus teria enviado Jesus para ser tropeço ao Seu povo!

Termino este estudo com um convite a todos aqueles que crêem no Deus que não faz acepção, que te ama e chama a todos para um concerto solene em Sua santa e majestosa presença:

“E o Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve diga: Vem. E quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida” (Apocalipse 22.17)

Eduardo Neves.

“E Ele [Jesus] é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1João 2.2)